26 mai, 2021 - 10:37
Terça-feira foi criada, no Vaticano, a ‘Plataforma Laudato Si’. Após a publicação desta encíclica social, em 2015, a terra abanou. Veio logo a Cimeira de Paris, sobre o Clima, e muitas das ideias presentes neste documento do Papa Francisco foram logo absorvidas. Afinal, quase todo o mundo percebeu que o fenómeno das alterações climáticas é apenas a ponta visível que um grande iceberg. A consciência de que estamos à beira do abismo levou figuras públicas, cientistas, países e instituições internacionais e gritar e propor mais e melhor intervenção. Mas o mundo está nas mãos dos grandes e o antigo Presidente americano abandonou as decisões da Cimeira de Paris e o mundo andou para trás. Veio esta pandemia dar razão ao Papa Francisco, pois pôs a nu as debilidades dos sistemas em que assentamos as sociedades e os valores que marcam as nossas vidas.
O Papa Francisco, para celebrar os cinco anos da Encíclica, lançou o ‘Ano Laudato Si’ que terminou segunda-feira. A grande novidade deste documento papal é o conceito de ecologia integral. Ou seja, as pessoas são o melhor do mundo e há que cuidar delas, amando-as, sem fazer exceção, mas dando uma particular atenção às mais frágeis, que estão nas periferias e nas margens. Por isso, a ecologia integral obriga a amar os pobres e respeitar a natureza.
Domingo de Pentecostes passei quase o dia todo com o cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicastério do Desenvolvimento Humano Integral, a quem o papa confiou o ‘Ano Laudato Si’ e, agora, esta ‘Plataforma Laudato Si’. Conversámos muito. Ficou claro que é urgente apostar nesta ecologia integral. O Cardeal remeteu-me para o vídeo que o papa iria publicar na terça-feira, por ocasião do lançamento da Plataforma. O Papa pede para escutar o grito dos pobres e da terra e, durante sete anos, focar um tema especial. A questão que preocupa Francisco é clara: ‘que mundo queremos deixar às novas gerações? É que Deus deu-nos como herança um jardim-paraíso e nós vamos dar aos filhos, como herança, um deserto!
Por isso, as propostas ‘Laudato Si’ passam por optarmos por um estilo de vida simples e fraterno, bem como por uma sociedade eco-sustentável assente na justiça, na fraternidade e na paz. Temos que reconstruir a nossa Casa Comum através de uma espiritualidade ecológica que implica um empenho comunitário.
Com o anúncio da ‘Plataforma Laudato Si’ foi publicado um Manual Laudato Si com cerca de 200 recomendações práticas para que haja aplicação dos valores gravados na encíclica e não nos percamos em teorias.
Regresso ao Cardeal Turkson e à explicação da Plataforma. Segundo ele, ninguém pode ficar de fora. A 'Plataforma Laudato si', um percurso operativo de sete anos, que convidará e ajudará as famílias, as comunidades paroquiais e diocesanas, as escolas e as universidades, os hospitais, as empresas, os grupos, os movimentos, as organizações, os institutos religiosos a assumir um estilo de vida sustentável.
Aguarda-se agora a próxima Cimeira do Clima (COP 26), a realizar em Glasgow, em novembro. É evidente a complexidade deste dossier porque muitas das decisões que se esperam entram em colisão frontal com interesses instalados que fazem escorregar milhões para os bolsos de uns tantos. E há que aceitar que também é muito complicado beliscar hábitos instalados e adquiridos cuja mudança radical pode provocar reações brutais. Há muito quem insista na importância da presença do Papa Francisco. Eu sou um deles. Acho que o Papa deve ir lá e insistir neste conceito novo de Ecologia Integral que obriga a amar os pobres e a respeitar a natureza. Há que construir um mundo ‘Laudato Si’, sempre com a convicção de que tudo está interligado, estamos todos na mesma arca e na mesma barca: ou nos salvamos juntos ou nos afogaremos todos. O futuro da Terra está nas nossas mãos!
*Coordenador
mundial do Gabinete de Justiça e Paz dos Missionários Espiritanos, com sede em
Roma