14 jun, 2021 - 08:50 • Olímpia Mairos
“Suplicamos que seja permitido um corredor humanitário” para as populações deslocadas e que estão numa situação dramática. O apelo é feito pelos bispos de Myanmar (antiga Birmânia), em carta publicada no passado fim de semana, recordando que as populações em fuga “são nossos cidadãos e têm o direito fundamental à alimentação e segurança”.
Também a alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, alertava recentemente para a escalada de violência naquele país, como consequência do golpe de Estado dos militares, a 1 de fevereiro, afirmando que se está a assistir a uma “catástrofe para os direitos humanos”.
Em comunicado divulgado na sexta-feira, 11 de junho, Michelle Bachelet declarava que “os dirigentes militares são responsáveis por esta crise” e, por isso, “devem prestar contas”.
Desde que os militares depuseram o governo de Aung San Suu Kyi, calcula-se que haverá mais de 850 mortos, milhares de feridos, cerca de 6 mil detidos e também milhares de pessoas em fuga.
Na carta divulgada este fim de semana pelos bispos de Myanmar, os militares são exortados a observar as normas internacionais segundo as quais “igrejas, pagodes, mosteiros, mesquitas, templos, escolas e hospitais são reconhecidos como locais neutros de refúgio durante um conflito”.
Recentemente, o cardeal Charles Maung Bo, em reação ao ataque à igreja em Kayantharyar, onde se encontravam refugiadas largas dezenas de pessoas, provocando quatro mortos e vários feridos, dava conta de uma “tragédia humanitária”, relatando que no seguimento da ação dos militares, muitos populares tinham fugido para a selva, correndo o risco de “morrer à fome”.
O prelado alertava ainda que “o sangue derramado não é sangue de inimigos” e que as pessoas que morreram, assim como os feridos, “são cidadãos do país”.
“O sangue que foi derramado não é o sangue de inim(...)
Também a Fundação AIS acompanha com preocupação a situação em Myanmar. O presidente executivo internacional, Thomas Heine-Geldern, já veio afirmar a importância da presença da Igreja junto destas populações aflitas e a necessidade de se apoiar o trabalho dos sacerdotes e das irmãs que têm procurado aliviar o seu sofrimento.
“A Igreja está a demonstrar, tanto pelos seus apelos como, ainda mais, pelo seu trabalho, que, como minoria neste país fará tudo o que for possível para promover a paz e o desenvolvimento da nação”, afirmou Heine-Geldern, sublinhando o esforço da Fundação AIS na ajuda aos padres e religiosas, mas também aos catequistas que têm procurado auxiliar as famílias mais carenciadas de Myanmar.
As primeiras audições de um processo contra Aung San Suu Kyi vão começar esta segunda-feira em Myanmar (antiga Birmânia). A data foi confirmada à France Presse pelo advogado da líder da Liga Nacional para a Democracia deposta pelo golpe militar.
“Temos os depoimentos do requerente e das testemunhas agendados a partir do próximo dia 14 de junho”, disse o advogado após o encontro com a líder birmanesa em Naypyidaw, a capital administrativa do país.
Su Kyi que proclamou a vitória nas eleições de novembro passado foi deposta pelos militares no dia 1 de fevereiro, que justificaram o golpe de Estado devido a alegadas fraudes eleitorais.