20 ago, 2021 - 18:03 • Ana Lisboa
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) prevê um "futuro negro" para a liberdade religiosa no Afeganistão com a chegada ao poder dos talibãs e a declaração de um Emirado Islâmico.
Em comunicado, o o presidente da AIS, Thomas Heine-Geldern, recorda que "durante o governo do anterior Emirado do Afeganistão (1996 a 2001), os Talibãs impuseram em todo o país uma versão estrita da sharia, a lei islâmica. Podemos esperar que o Islão sunita seja a religião oficial, que seja reintroduzida a sharia e que sejam revogadas as liberdades e os direitos fundamentais, incluindo a liberdade religiosa, que têm sido tão difíceis de alcançar nos últimos 20 anos".
A fundação pontifícia já previa a deterioração da situação no seu recente Relatório sobre Liberdade Religiosa, publicado em Abril deste ano.
"Ao longo dos 22 anos de história deste relatório, o Afeganistão sempre esteve entre os países que mais violam este direito fundamental. Especialmente nos últimos três anos, o relatório destaca ataques repetidos e hediondos a locais de culto, líderes religiosos e fiéis".
Por isso, a AIS não tem muita "esperança" e reconhece que "todos aqueles que não abraçam as visões islâmicas extremistas dos Talibãs estão em perigo, até mesmo os sunitas moderados. Os xiitas, a pequena comunidade cristã e todas as outras minorias religiosas já ameaçadas, sofrerão uma opressão ainda maior. Este é um grande retrocesso para todos os direitos humanos e, principalmente, para a liberdade religiosa no país".
O presidente executivo da Ajuda à Igreja que Sofre afirma que "infelizmente vários países apressaram-se a declarar a sua simpatia pelo novo emirado", o que "legitimará os Talibãs", mas também "dará um incentivo a outros regimes autoritários em todo o mundo", especialmente na região, estimulando crescentes violações da liberdade religiosa nos seus próprios países". Nesse sentido, estão preocupados com o "Paquistão, a Palestina e a província de Idlib na Síria".
A Fundação AIS aproveita para apelar à comunidade internacional para "que se manifeste em defesa dos direitos humanos de todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente porque acreditamos que a liberdade religiosa será particularmente ameaçada. Também pedimos aos nossos benfeitores que continuem a orar durante este período profundamente perturbador da história do Afeganistão".
Mais de 99% da população é muçulmana, os sunitas representam o maior grupo. Os xiitas são apenas 10%. Entre os 0,14% que pertencem a outras religiões, há um número relativamente semelhante de hindus, bahais, budistas e cristãos. No país estão registados apenas 200 católicos.
Os talibãs tomaram o controlo do Afeganistão e chegaram à capital Cabul no passado domingo, cerca de duas semanas após o início da retirada das tropas da coligação internacional encabeçada pelos EUA. Já tinham governado o país entre 1996 e 2001.