01 set, 2021 - 09:41
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O Papa Francisco assumiu que o caminho com a China não tem sido fácil, mas que nunca se deve renunciar ao diálogo.
Em entrevista à Cadena COPE, a rádio católica de Espanha, transmitida esta quarta-feira, Francisco evocou o exemplo do cardeal Casaroli, que no pontificado de João XXIII tinha a seu cargo a criação de pontes com os regimes da Europa Central, que na altura estavam sob o jugo do comunismo.
“A China não é fácil. Estou convencido que não se deve renunciar ao diálogo. Depois pode haver enganos, mas esse é o caminho. Fechar-se nunca é caminho”, disse.
Desde que subiu ao poder, o Partido Comunista Chinês tem levado a cabo uma dura repressão contra a Igreja Católica, recusando, por exemplo, que Roma nomeie os bispos chineses. Pequim acredita que as nomeações episcopais são um assunto interno e consideram “ingerência” a ideia de estas serem feitas pelo Papa.
A situação levou à formação de duas igrejas que operam em simultâneo no território chinês, com bispos nomeados e aceites por Pequim, que formam a “Igreja oficial”, aos olhos dos chineses, e uma outra hierarquia “clandestina” que é fiel a Roma.
Para tentar acabar com esta situação, e evitar uma rutura permanente, o Vaticano chegou a um acordo com a China em 2019. Os termos do acordo nunca foram revelados publicamente, mas acredita-se que o sistema prevê que Roma escolhe três candidatos e Pequim toma a decisão final. Contudo, os críticos dizem que o acordo é uma traição à fidelidade dos católicos chineses, uma vez que regulariza a situação dos que são coniventes com o regime, e sublinham o facto de a perseguição religiosa se manter naquele país.
“O que aconteceu agora na China foi, pelo menos, haver diálogo. Houve coisas concretas, passos lentos, que podem ser questionáveis, nos seus resultados, para um lado ou para outro. A chave que me inspira é o cardeal Casaroli, que foi o homem encarregado por João XXIII para construir pontes com a Europa central.”
“Há um livro bonito, ‘O martírio da paciência’, em que se contam as experiências dele. Passos pequenos, pontes, momentos difíceis. Lentamente foram-se criando caminhos diplomáticos. Creio que de alguma forma temos de seguir este caminho de diálogo passo a passo nas situações de maior conflito.”
A este respeito Francisco recordou a sua própria experiência no diálogo com o Islão, nomeadamente com o grande imã da Mesquita de Al-Azhar, uma das maiores autoridades muçulmanas. “A minha experiência com o diálogo com o Imã Ahmed el-Tayeb deu muitos frutos. Dialogar sempre, ou estar disposto a dialogar.”
Aproveitou ainda a situação para brincar com o facto de haver muitas pessoas em seu redor que querem “traçar o seu caminho” em relação a este assunto, ou outros, dizendo que “quando eu era padre também adorava traçar o caminho do bispo. É uma tentação lícita, desde que haja boa vontade.”