14 set, 2021 - 10:05 • Filipe d'Avillez
O Papa Francisco recordou esta manhã na Eslováquia os muitos católicos bizantinos que foram perseguidos ou deram mesmo a vida por amor a Cristo.
Francisco celebrou em Presov, perto de Košice, uma Divina Liturgia em rito bizantino, usado pela Igreja Greco-Católica da Eslováquia, que tem forte presença no leste daquele país.
Todos os cristãos sofreram durante o regime comunista, mas os católicos bizantinos, pela sua proximidade litúrgica e cultural com os ortodoxos, foram perseguidos com particular dureza, unidos forçosamente às Igrejas Ortodoxas locais, ou diretamente ao Patriarcado de Moscovo, e obrigados a abandonar a comunhão com Roma. Os padres e bispos que recusaram foram presos e muitos morreram encarcerados.
“Penso nos mártires que deram testemunho do amor de Cristo nesta nação em tempos muito difíceis, quando tudo aconselhava a ficar calado, pôr-se a seguro, não professar a fé. Mas não podiam deixar de testemunhar. Quantas pessoas generosas sofreram e morreram aqui, na Eslováquia, por causa do nome de Jesus! Um testemunho prestado por amor Àquele que tinham contemplado longamente, até ao ponto de se assemelharem a Ele, inclusive na morte”, disse Francisco.
Esta terça-feira a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz, tanto no calendário litúrgico ocidental como oriental, e Francisco fez da Cruz e do seu significado o centro de reflexão na sua homilia, alertando contra a sua utilização como símbolo social ou político.
“Como podemos aprender a ver a glória na cruz? Alguns santos ensinaram que a cruz é como um livro que, para o conhecer, é preciso abri-lo e ler. Não basta comprar um livro, dar-lhe uma vista de olhos e expô-lo em casa. O mesmo vale para a cruz: está pintada ou esculpida em cada canto das nossas igrejas. Incontáveis são os crucifixos: ao pescoço, em casa, no carro, no bolso. Mas isso de nada nos aproveita, se não nos detivermos a olhar o Crucificado e não Lhe abrirmos o coração, se não nos deixarmos impressionar pelas suas chagas abertas por nós, se o coração não se comover e chorarmos diante de Deus ferido de amor por nós.”
“Se não fizermos assim, a cruz permanece um livro não lido, cujo título e autor são bem conhecidos, mas que não influencia a vida. Não reduzamos a cruz a um objeto de devoção, e menos ainda a um símbolo político, a um sinal de relevância religiosa e social.”
Uma vida centrada na contemplação da Cruz leva a uma atitude evangélica, sublinhou Francisco. “A cruz não quer ser uma bandeira elevada ao alto, mas a fonte pura duma maneira nova de viver. Qual? A do Evangelho, a das Bem-aventuranças.”
“A testemunha que tem a cruz no coração, e não apenas ao pescoço, não vê ninguém como inimigo, mas vê a todos como irmãos e irmãs por quem Jesus deu a vida. A testemunha da cruz não recorda as injustiças do passado nem se lamenta do presente. A testemunha da cruz não usa as vias do engano e do poder mundano: não quer impor-se a si mesmo e os seus, mas dar a sua vida pelos outros. Não busca o próprio proveito, e logo se mostra piedoso: seria uma religião da duplicidade, não o testemunho do Deus crucificado. A testemunha da cruz segue uma única estratégia que é a do Mestre: o amor humilde. Não espera triunfos aqui na terra, porque sabe que o amor de Cristo é fecundo na vida quotidiana, fazendo novas todas as coisas a partir de dentro, como uma semente caída na terra, que morre e dá fruto.”
Neste seu segundo dia completo na Eslováquia, Francisco tem ainda marcado um encontro com a comunidade cigana e outra com os jovens. Regressa depois a Bratislava, onde pernoita e celebra missa na quarta-feira, antes de voltar para Roma.