14 set, 2021 - 19:46 • Pedro Mesquita , enviado especial à Eslováquia
O Papa não se ficou apenas pelo leito do rio, também tocou esta terça-feira as margens da sociedade eslovaca, os mais desfavorecidos e quase sempre marginalizados. Aliás, o Papa frisou que os ciganos não estão nas margens, mas no coração da Igreja.
Francisco veio ao bairro cigano de Lunik, situado nos subúrbios de Kosice, já perto da Ucrânia, para surpresa de todos, pessoas nada habituadas a que se queiram encontrar com eles, ainda para mais é o Papa.
Foi o que disse Kevin, à Renascença. Este morador de Lunik, de 21 anos, estava visivelmente entusiasmado, poucos minutos antes da chegada de Francisco.
“Estou muito contente pela visita do Papa. Não é habitual que aqueles que visitam a Eslováquia nos queiram ver, ficámos todos surpreendidos ao saber que o Papa viria encontrar-se connosco.”
Não é habitual que aqueles que visitam a Eslováquia nos queiram ver
Minutos depois, o Papa foi recebido com um caloroso aplauso. Francisco sorriu e acenou à comunidade cigana e depois, já por palavras, deixou um forte um apelo à integração de todos quantos são vítimas do preconceito.
O Papa sublinhou, no seu discurso, que “todos ficamos mais pobres quando discriminamos, ficamos mais pobres em humanidade”, e insistiu que colocar as pessoas em guetos não resolve nada. O caminho é a Integração.
“Queridos irmãos e irmãs, muitas vezes fostes objeto de preconceitos e juízos cruéis, estereótipos discriminatórios, palavras e gestos difamatórios. Com isso, todos ficamos mais pobres, pobres em humanidade. O que precisamos para recuperar a dignidade é passar dos preconceitos ao diálogo, dos fechamentos à integração.”
Palavras escutadas com emoção e com aplausos desta comunidade cigana que vive nos subúrbios de Kosice, nos subúrbios da sociedade, e que o Papa não hesitou em visitar, para surpresa de todos eles.
Também os que estavam à janela de prédios muito, muito degradados. Pessoas amontoadas à janela porque já não cabiam na praça, a acenar ao Papa, incluindo muitas crianças. E uma tarja, numa das janelas, onde se podia ler: “Francisco, bem-vindo até nós”.
Depois, o Sumo Pontífice seguiu para o Estádio Lokomotiva, também aqui em Kosice, um recinto a abarrotar de jovens, a quem disse para não terem medo de sonhar com uma beleza que vá além das aparências e das modas, e para não terem medo de formar uma família.
“Por favor, não deixemos transcorrer os dias da vida como episódios duma telenovela. Sonhai uma beleza que vá para além da aparência, para além das tendências da moda. Sem medo, sonhai formar uma família, gerar e educar filhos, passar uma vida inteira partilhando tudo com outra pessoa, sem vos envergonhardes das próprias fragilidades, porque existe ele, ou ela, que as acolhe e ama, que te ama tal como és”.
A propósito de família, o Papa não esqueceu os mais velhos. Pediu aos jovens que vão ter com os avós, que lhes façam perguntas e reservem tempo para ouvir as suas histórias. Há hoje o perigo de crescermos desenraizados, porque temos a tendência para correr, para fazer tudo depressa.
Francisco disse a todos estes jovens que não devem deixar que, aqueles que lhes aparecem pela internet, sejam mais familiares o que os rostos que os geraram. De outro modo, sublinhou o Papa, corremos os riscos de perder as verdadeiras raízes.
Este tem sido um dia muito intenso para o Papa, que já esta manhã presidiu a uma missa de rito Bizantino, em Presov, e se referiu aos mártires que no passado sofreram e morreram na Eslováquia, por testemunharem a fé cristã.
Foi isso mesmo, perante muitos milhares de fiéis concentrados num parque desportivo, o Papa pediu a todos eles para que deem testemunho claro do amor de Cristo, tal como fizeram os mártires.
Francisco sublinhou que, graças a Deus, já não há na Eslováquia quem persiga os cristãos, como ainda acontece noutras partes do mundo, mas acrescentou que não faltam ocasiões para dar um testemunho de fé.
A visita do Papa à Eslováquia está já na sua reta final. Francisco regressa na quarta-feira a Roma, mas amanhã de manhã há ainda um momento particularmente esperado.
O Papa vai presidir a uma celebração eucarística em Sastin, a cerca de 70 quilómetros de Bratislava, já muito perto da fronteira com a República Checa, um país vizinho que, não há muitos anos, juntamente com a Eslováquia, formava a Checoslováquia.