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Papa desafia a não “reduzir a fé a um açúcar que adoça a vida”

15 set, 2021 - 09:35 • Olímpia Mairos

Quase a despedir-se da Eslováquia, o Papa Francisco apelou esta manhã a que a solidariedade subsitua os egoísmos pessoais e coletivos.

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Papa: "Não se pode reduzir a fé a um açúcar que adoça a vida"
Papa: "Não se pode reduzir a fé a um açúcar que adoça a vida"

O Papa presidiu, esta quarta-feira, à eucaristia na Esplanada do Santuário Nacional de Šaštin, a cerca de 70 quilómetros a norte de Bratislava, que São João Paulo II visitou em 1995, e apresentou Maria como o modelo do cristão.

“No logótipo desta Viagem Apostólica, há um caminho desenhado dentro dum coração encimado pela cruz: Maria é o caminho que nos introduz no Coração de Cristo, que deu a vida por nosso amor”, disse Francisco aos milhares de fiéis e peregrinos.

Esta quarta-feira, a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da Eslováquia, e o Papa salientou que “podemos olhar para Maria como modelo da fé. E, na sua fé, reconhecemos três caraterísticas: o caminho, a profecia, a compaixão”.

“Assim, a Virgem é modelo da fé deste povo eslovaco: uma fé que se põe a caminho, sempre animada por uma devoção simples e sincera, sempre em peregrinação, à procura do Senhor. E, caminhando, venceis a tentação duma fé estática, que se satisfaça com algum rito ou tradição antiga; em vez disso, saís de vós mesmos, levais na mochila as alegrias e os sofrimentos, e fazeis da vida uma peregrinação de amor a Deus e aos irmãos”, explicou.

“Obrigado por este testemunho! E, por favor, continuai a caminho”, desafiou.

Desejando uma Igreja sempre a caminho, à semelhança de Maria, Francisco advertiu que “quando a Igreja pára, adoece; quando os bispos param, adoecem a Igreja; quando os padres param, adoecem o Povo de Deus”.

Não nos esqueçamos disto: não se pode reduzir a fé a um açúcar que adoça a vida”, pediu Francisco, lembrando que “Jesus é sinal de contradição. Veio para trazer a luz onde há trevas, pondo as trevas a descoberto e forçando-as a renderem-se. Por isso, as trevas lutam sempre contra Ele”.

“Quem acolhe Cristo e se abre para Ele, ressuscita; quem O rejeita, encerra-se na escuridão e arruína-se a si mesmo”, alertou.

O Papa assinalou que “face a Jesus, não se pode ficar morno, com ‘o pé em dois sapatos’”, porque, acolhê-Lo significa aceitar que Ele desvende as minhas contradições, os meus ídolos, as sugestões do mal; e que Se torne para mim ressurreição, Aquele que sempre me levanta, que me toma pela mão e faz recomeçar”.

“Também hoje a Eslováquia precisa destes profetas”, disse Francisco, explicando que “não se trata de ser hostis ao mundo, mas ser ‘sinais de contradição’ no mundo”.

Cristãos que sabem mostrar, com a vida, a beleza do Evangelho: que são tecedores de diálogo, onde as posições se tornam rígidas; que fazem resplandecer a vida fraterna na sociedade, onde muitas vezes nos dividimos e contrapomos; que difundem o bom perfume do acolhimento e da solidariedade, onde muitas vezes prevalecem os egoísmos pessoais e coletivos; que protegem e guardam a vida onde reinam lógicas de morte”, explicou.

E, mais uma vez, Francisco convidou os fiéis a olharem para a “Virgem Mãe Dolorosa”, uma atitude que abre “a uma fé que se torna compaixão, que se torna partilha de vida com quem está ferido, quem sofre e quem é constrangido a carregar aos ombros pesadas cruzes”.

Uma fé que não se fica pelo abstrato, mas faz-nos entrar na carne e nos torna solidários com os necessitados. Esta fé, ao estilo de Deus, humilde e silenciosamente levanta o sofrimento do mundo e irriga os sulcos da história com a salvação”, concluiu.

Já a terminar a eucaristia, Francisco agradeceu o acolhimento do povo eslovaco e despediu-se dos fiéis.

“Chegou a hora de me despedir do vosso país. Nesta Eucaristia, dei graças a Deus por me ter concedido a graça de vir ter convosco e concluir a minha peregrinação no devotado abraço do vosso povo, celebrando juntos a grande festa religiosa e nacional da Padroeira, Nossa Senhora das Dores”.

“De coração vos agradeço, queridos irmãos Bispos, por toda a preparação e o acolhimento. Renovo o meu agradecimento à Senhora Presidente da República e às autoridades civis. E agradeço a todos aqueles que colaboraram de diversos modos, especialmente com a sua oração”, disse Francisco.

“Levo-vos no coração. Ďakujem všetkým [obrigado a todos]!”, conclui o Papa.

Antes de celebrar a eucaristia no Santuário de Nossa Senhora das Sete Dores, a padroeira nacional do país, Francisco presidiu a um momento de oração com os bispos. Foi um encontro privado para um momento de oração no Santuário, de grande significado para os eslovacos. Todos os anos é realizada uma grande peregrinação nacional para a festa da padroeira que, este ano, contou com a presença do Papa. O momento de oração foi também um agradecimento pelo bom êxito da cirurgia à qual Francisco foi submetido em julho deste ano.

Francisco ofereceu ao Santuário Nacional de Šaština a Rosa de Ouro, uma das distinções mais importantes concedidas por um pontífice.

Neste seu último dia de visita à Eslováquia, Francisco tem ainda a cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional de Bratislava.

A 34.ª viagem internacional do pontificado começou domingo, em Budapeste, onde encerrou o Congresso Eucarístico Internacional, e termina esta quarta-feira na Eslováquia.

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