15 set, 2021 - 16:24 • com AIS
O Papa Francisco recebeu como presente uma cruz feita de madeira resgatada de uma igreja vandalizada e incendiada em Santiago do Chile, e mostrou-se “profundamente comovido” pelo facto, recorda o bispo auxiliar da diocese de Santiago, Alberto Lorenzelli, citado pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
A cruz, uma de muitas feitas por ourives depois da vaga de manifestações e de protestos que levaram à destruição desta e outras igrejas no Chile, em outubro de 2000, foi entregue em mão ao Papa em julho, horas antes de ter sido submetido a uma cirurgia ao intestino.
O fabrico das cruzes peitorais foi uma forma encontrada de aproveitar os restos de madeira da Igreja e, segundo o bispo, “têm um significado profundo”, uma vez que evocam “uma igreja que foi queimada” deixando “uma ferida profunda” na comunidade cristã e no povo chileno em geral.
“O que mais magoa é que eram jovens. Temos tantos jovens que perderam o sentido dos valores e esqueceram a sua história. Têm entre 16 e 20 anos e revoltam-se contra todas as instituições, contra todas as formas de autoridade. São um movimento incontrolável, sem líder, sem alguém a comandar com quem se pudesse dialogar”, acrescenta o prelado, entrevistado pela AIS.
Por outro lado, após os acontecimentos a Igreja foi inundada de manifestações de apoio de outras pessoas, também jovens, que se ofereceram para ajudar na medida do possível. Um grupo de universitários, estudantes de restauro e prevenção de riscos em edifícios históricos, formou o projeto “Sursum Corde”, latim para “Corações ao Alto” e contribuíram para avaliar os danos e proceder à limpeza do que restava da igreja, com vista a um eventual restauro. Foi durante as operações de limpeza que se resgataram vários pedaços de madeira que, entregues a ourives, serviram para fazer as cruzes peitorais.
Os incidentes de ataques a igrejas no Chile são um motivo de preocupação para a AIS, como vem referido no relatório da fundação sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em abril de 2021, onde se calcula em pelo menos 60 as igrejas e capelas atacadas e vandalizadas no país, só desde outubro de 2019.
A fundação tem prestado auxílio à comunidade católica do Chile, financiando a reconfiguração e uma sala paroquial para a celebração da missa, enquanto a igreja não é restaurada, e providenciando ainda espaços para a catequese e realização de funerais, informa a AIS.