27 set, 2021 - 09:56 • Filipe d'Avillez
Um líder da comunidade cristã do estado de Kano, na Nigéria, foi assassinado no final da semana passada, depois de ter sido atacado por muçulmanos da aldeia onde vivia.
O pastor Yohanna Shuaibu era o secretário-geral do núcleo local da Associação Cristã da Nigéria, na região de maioria muçulmana de Sumaila, no estado de Kano e era conhecido pelo seu ativismo em prole da minoria cristã, mas também pelos seus esforços no sentido de promover o diálogo inter-religioso.
A sua morte aconteceu na sequência de outro assassinato. Um homem matou a cunhada no dia 21 de setembro e depois entregou-se à polícia. Pouco depois, segundo a organização Christian Solidarity Worldwide (CSW), começaram a circular boatos de que o homicida, que era conhecido na aldeia por ter abandonado o islão, se tinha convertido ao cristianismo e frequentava a igreja evangélica da qual Shuaibu era pastor.
A polícia alertou o pastor, que abandou a aldeia juntamente com a sua família. No dia seguinte, contudo, regressou para ajudar a evacuar estudantes da escola cristã que ajudou a fundar e que servia sobretudo crianças da etnia hausa. Reparando, contudo, que o ambiente estava muito menos tenso, decidiu voltar com a sua família para a aldeia.
Nessa noite, porém, formou-se uma multidão de muçulmanos que atacaram a casa. A mulher e crianças de Yohanna Shuaibu conseguiram fugir, mas o pastor foi apanhado e agredido à catanada. Acabou por morrer das suas lesões no dia seguinte. A sua casa foi incendiada, bem como a escola que fundou e a igreja que pastoreava.
Segundo a CSW, Shuaibo era conhecido pela sua capacidade de angariação de fundos para ajudar a comunidade cristã local, incluindo na construção de poços de água. Num gesto de boa-vontade e de reconciliação, a comunidade cristã local financiou a reparação de uma fonte de água na mesquita local.
As tensões inter-religiosas e intercomunitárias continuam a fazer vítimas a um ritmo quase diário na Nigéria. O conflito assume várias formas e opõe geralmente os muçulmanos de etnia fulani, que tendem a ser pastores de gado, contra os agricultores de etnia hausa, maioritariamente cristãos. Às diferenças étnicas e religiosas das duas comunidades são agravadas por disputas por terras que uns pretendem usar para pastoreio e outros para agricultura.