20 out, 2021 - 13:49 • Ângela Roque
“Durante anos fui maltratada por um padre a quem deveria chamar ‘'irmãozinho' e eu era sua 'irmãzinha'”, revela a carta citada pelo Vatican News, que a considera um “corajoso testemunho”.
A missiva foi escrita em italiano por uma mulher, cujo nome não é revelado por questões de segurança. Fala da experiência traumática que viveu, e como isso condiciona até hoje a forma como vive a sua fé. Diz que conta o que experimentou "também em nome das outras vítimas”, sobretudo crianças “profundamente feridas”, e a quem “foi roubada a sua infância, pureza e respeito”.
"A Igreja é minha Mãe e dói-me muito quando ela está ferida, quando está suja”, escreve a autora da carta, acrescentando que "os adultos que experimentaram esta hipocrisia quando crianças nunca poderão apagá-la de suas vidas. Podem esquecer por pouco tempo, tentar perdoar, tentar viver uma vida plena, mas as cicatrizes permanecerão em suas almas, elas não desaparecerão”.
Conta que tenta “sobreviver, sentir alegria”, mas é “uma luta incrivelmente difícil”, porque tem “distúrbio de identidade dissociativa, distúrbio pós-traumático complexo grave, depressão, ansiedades”. E “medo das pessoas” e “dos padres”.
Objetivo é coordenar comissões diocesanas e criar (...)
“Tenho um grande desejo de me sentir segura na Igreja, de não ter medo”, lê-se na carta, em que deixa um apelo aos sacerdotes para que “protejam a Igreja, o corpo de Cristo! Não permitam que essas feridas se aprofundem e que novas feridas ocorram!”.
“Vocês são chamados por Deus, para servir a Deus. Têm uma grande responsabilidade. Por favor sejam bons sacerdotes”, refere ainda, pedindo à Igreja que não ignore os casos de abuso. “Por favor, não varramos as coisas para debaixo do tapete”, porque “se ocultarmos estes factos, quando nos calamos sobre eles, tornamo-nos cúmplices. Se queremos viver na verdade, não podemos fechar os nossos olhos”.
O testemunho desta sobrevivente foi lido pelo Papa Francisco, que quis que o presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, cardeal Sean O'Malley, o partilhasse com todos os sacerdotes e seminaristas, como alerta, e autorizou que fosse tornado público, o que aconteceu nesta quarta-feira.
“Neste tempo de renovação e conversão pastoral, em que a Igreja enfrenta o escândalo e as feridas de abusos sexuais infligidos em todos os lugares a tantos filhos de Deus, nosso Santo Padre recebeu um corajoso testemunho oferecido a todos os sacerdotes por uma sobrevivente", escreve o arcebispo de Boston na breve introdução à carta, acrescentando que, “ao partilhar este testemunho”, o Papa “deseja acolher a voz de todas as pessoas feridas e mostrar a todos os sacerdotes que proclamam o Evangelho o caminho que conduz ao autêntico serviço de Deus em benefício de todos os vulneráveis”.
Abusos sexuais
O relatório relativo a um dos padres suspeitos foi(...)