30 out, 2021 - 09:30 • Ângela Roque
Teresa Rebelo de Andrade, da Fundação Fé e Cooperação (FEC), trabalha desde abril com jovens voluntários no âmbito de um projeto da CIDSE, uma rede internacional de organizações católicas pela justiça social e pelo desenvolvimento sustentável. Em entrevista à Renascença fala do contributo que têm dado, e do que está a ser preparado para acompanhar a COP 26, que arranca este domingo, em Glasgow.
Que expetativas têm para esta Cimeira do Clima?
Temos expectativas quanto a uma mudança do sistema numa era pós covid, e a uma recuperação justa das economias. Esperamos que este seja um tempo para a reconstrução de uma economia mais verde e mais sustentável, não voltando ao registo pré-Covid, e que aumente a ambição e a concretização das contribuições nacionalmente determinadas. Este vai ser um dos grandes objetivos da COP, concretizar o que foi decidido no acordo de Paris em 2015, apostar numa transição energética justa, acabando com o financiamento aos mercado de carbono e às indústrias combustíveis fósseis, e apostar no envelope financeiro de ajuda dos países desenvolvidos aos países em vias de desenvolvimento, que são os que menos contribuem para as alterações climáticas, mas acabam por sofrer as maiores consequências e ter os maiores impactos.
É uma agenda ambiciosa. Acredita que os vários países estão mais sensíveis hoje?
Há muita expectativa. O próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, já admitiu que as expetativas podem não ser as melhores, com a ausência dos líderes de alguns países, como a China, por exemplo. Mas, está a haver um esforço mundial muito grande, seria bom que se trabalhasse com o que se tem.
A FEC está envolvida numa campanha no âmbito da CIDSE. No que é que consiste, e o que é que vão fazer no âmbito da COP 26?
A CIDSE, dentro da sua organização, tem um grupo que se chama "Change for the Planet, Care for the People" ("Mudar Pelo Planeta, Cuidar das Pessoas"), que ambicionava levar 100 jovens até à COP – jovens não só europeus, mas das organizações que fazem parte da CIDSE. Em abril iniciou um percurso espiritual e formativo, que temos vindo a fazer, a maior parte através de encontros online de formação. Tem sido uma oportunidade de conhecer outras qualidades, de ouvir jovens ativistas, de aprender mais sobre as próprias questões climáticas, não só científicas, mas a parte política também.
Tem sido também uma grande oportunidade para envolver quem tem interesse no tema e quem quer tomar parte neste movimento global, e a ambição seria, de facto, participarmos na COP 26.
Não vão conseguir?
Infelizmente, por questões da pandemia, não vai ser possível levar o grupo todo, mas vamos desde Lisboa – cada organização desde o seu país – tentar acompanhar.
Dia 6 de novembro vamos ter encontros com os Policy Officers que vão estar presentes na COP, e vamos tentar participar no Dia de Ação Global pela Justiça Climática (Global Day of Action for Climate Justice), uma coligação de várias redes mundiais pelo clima, que vão realizar marchas em vários países do mundo, a acontecer simultaneamente, no sábado, 6 de novembro, às 15h00. Em Lisboa vai ser no Martim Moniz.
Temos assistido nos últimos anos a um envolvimento grande dos jovens nesta luta, até pelo movimento criado por Greta Thunberg. Em termos de jovens católicos, nomeadamente neste projeto da CIDSE, também há um grande empenho?
Tentamos que sim. De facto a FEC e a CIDSE são organizações católicas, e é essa a fé que nos move, mas somos abertos e – tanto no grupo português, que somos oito, como no grupo internacional maior, que somos 100 – temos pessoas católicas e não católicas, o que acaba por ser uma mais-valia.
O contributo que as vossas organizações têm dado tem sido escutado por quem tem poder de decisão? São vozes ouvidas hoje em dia?
Um dos grandes papéis da FEC, na sua área de advocacia social, é conseguir fazer chegar as suas preocupações e recomendações a quem tem poder de decisão, e esse é uma dos nossos grandes trabalhos, por isso, dentro do possível, vamos comunicando com os Eurodeputados, fizemos alguns Webinars onde conseguimos partilhar estas preocupações e fizemos chegar recomendações que fizemos. Por exemplo, muito recentemente, no projeto 'Coerência na Presidência', fizemos chegar à APA, a Agência Portuguesa do Ambiente, e a todas as entidades, eurodeputados e deputados nacionais que têm poder de decisão, o estudo sobre desenvolvimento e alterações climática, para que tenham em conta as novas descobertas científicas nas suas decisões.
Este grupo liderado pela CIDSE, apesar de ter começado em abril, na verdade iniciou-se em 2015 com o lançamento da encíclica Laudati Si', do Papa Francisco. Mesmo que o percurso em si possa acabar com a COP, esta caminhada conjunta só acaba quando se limitar o aquecimento global a 1,5 graus centígrados.
E uma das próximas ações é a manifestação de 6 de novembro?
Sim, e gostava de motivar as pessoas a irem à marcha, e a estarem atentas aos acontecimentos na COP. Porque eu própria, no meu percurso pessoal, tenho vindo a descobrir o papel fundamental que os cidadãos têm ao fazer pressão sobre quem tem poder de decisão. Uma pressão positiva, naturalmente, que tem em vista um futuro melhor, e por isso gostava de deixar essa motivação e esse convite à participação.