02 nov, 2021 - 12:23 • Olímpia Mairos
A Comissão da Tradução da Bíblia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) acaba de divulgar o texto provisório do livro do Êxodo, o segundo do Antigo Testamento, para recolher contributos dos leitores.
Em entrevista à Renascença, o coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia explica que o objetivo "é envolver a comunidade no processo, acolhendo o contributo dos leitores no que, embora sem desvirtuar o seu sentido literal, considerem ser importante para a melhoria da compreensibilidade do texto, tendo em conta que este se destina a ser utilizado em todas as dimensões da vida da Igreja em Portugal, nomeadamente na liturgia".
O texto é acompanhado de uma introdução, em que é apresentado o conteúdo do livro, a história literária, a autoria e o “sentido teológico” do segundo livro da Bíblia, a partir do “tema da libertação da escravatura”.
A tradução está disponível na página da Conferência Episcopal Portuguesa e as achegas e comentários devem ser enviados através do endereço eletrónico biblia.cep@gmail.com.
Desde agosto, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente em formato digital. A bíblia completa só deverá sair dentro de cinco anos.
“Nós gostaríamos muito que daqui a dois anos tivéssemos o Novo Tratamento terminado e que daqui a cinco anos tivéssemos, naturalmente, a tradução de toda a bíblia”, adianta à Renascença o padre Mário Sousa, assinalando, no entanto, que “tudo isto é muito relativo, porque, às vezes, há traduções que implicam um grande esforço das subcomissões e, muitas vezes, uma revisão que acaba por ser muito prolongada”.
“E, portanto, depende do estado do texto que chega e das harmonizações que é preciso fazer, se é preciso acrescentar notas ou até retirá-las…”, sublinha.
O coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia nota que este é um trabalho meticuloso e, por isso, moroso, que conta com um leque diversificado de biblistas.
“Leva muito tempo, é demorado. As subcomissões são constituídas por três pessoas. É preciso, muitas vezes, discutir a tradução apresentada por pelo primeiro tradutor. E tudo isso leva, naturalmente, muito tempo. E depois, tenho em conta também a finalidade, que não é uma finalidade académica, mas é, sobretudo, uma finalidade litúrgica, ou seja, que o texto, sendo fiel às línguas originais, também não seja de tal forma literal, que se torne pouco compreensível na nossa língua, ao ser escutado ou ao ser lido”, explica o sacerdote.
Da metodologia faz parte escutar e receber achegas por parte dos leitores, um contributo que, até ao momento, não está a ajudar muito, porque, refere o sacerdote, “há pessoas que, de facto, comentam muito que, agora sim, que esta tradução é muito boa; outras pessoas que nem por isso, não em tão grande número… Mas este tipo de contributos, naturalmente que não ajuda muito”.
“O que ajuda é, de facto, a pessoa pronunciar-se ‘esta versão do versículo tal em português não funciona’, ‘não conseguimos perceber o que é que se quer dizer com esta frase’. E este tipo de contributo, naturalmente que a maior parte das pessoas não consegue pronunciar-se sobre a tradução em si, sobre a sua fidelidade à língua original, mas pode pronunciar-se sobre a sua compreensibilidade e é sobretudo isso que a comissão da tradução da bíblia gostaria de receber dos leitores”, observa.
Para o coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia, quanto maior e melhor for o contributo dos leitores, melhor será o texto final, daí o apelo à participação.
“Para quem está a trabalhar com o texto dia a dia, determinada passagem pode ser muito compreensível, até porque, naturalmente, o conhecimento do pensamento daquele autor ajuda a quem está a traduzir. Mas isto pode não acontecer a quem não tem assim um conhecimento tão profundo da teologia daquele autor ou sobre a forma daquele escritor se expressar. E estas ressonâncias são muito importantes nesse sentido. Texto será tanto melhor, quanto mais participação e mais achegas nos fizerem chegar”, sublinha o sacerdote.
A nova tradução da bíblia, a partir das línguas originais, hebraico, aramaico e grego, para português é um projeto da Conferência Episcopal Portuguesa. O objetivo é conseguir um texto uniforme, que possa ser usado na liturgia, na catequese e em todas as atividades da Igreja, quer em Portugal quer, futuramente, nos outros países lusófonos, que também colaboram neste trabalho. O projeto arrancou em 2012 e segue o acordo ortográfico.