07 nov, 2021 - 08:40 • Henrique Cunha
A propósito do Dia Mundial dos Pobres, que se assinala no próxima dia 14 de novembro, Eugénio da Fonseca, presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado e ex-presidente da Cáritas portuguesa, defende que esta data “é muito importante para se começar a fazer experiências de integração dos pobres nas comunidades cristãs, para se deixar de ter os pobres à porta das igrejas e passá-los para dentro da Igreja, tentado resolver os problemas complexos dessas pessoas”.
Na sua opinião, é um dia “não para falar deles, mas estar com os pobres” e é “por isso que o Santo Padre pede que haja iniciativas ao nível das comunidades cristãs”, porque é ao nível das comunidades que os pobres se encontram.
O responsável pela Confederação do Voluntariado refere que infelizmente “é rara a semana em que não aparece em alguma paróquia alguém a pedir ajuda para o seu agregado familiar”. É nesta altura que deve arrancar a sua integração nas comunidades cristãs.
O antigo presidente da Cáritas Portuguesa sustenta que para além da pobreza geracional que persiste, em Portugal há um novo perfil. “Temos gente pobre e com qualificações académicas. Há gente que não encontra um posto de trabalho e admite-se até que possa haver gerações que nunca venham a ter trabalho. Eu conheço gente com licenciaturas que vai para as caixas das grandes superfícies”, refere.
Existe uma outra forma de pobreza que é a infoexclusão. “Todos já percebemos que para se ter acesso à igualdade de oportunidades, que é um direito básico tem que se recorrer à Internet porque é lá que estão os documentos para preencher, os passos a seguir”, explica. Por último, Eugénio da Fonseca identifica um outro tipo de pobreza “que se veio a tornar mais expressiva com a pandemia e que é a solidão”, pois “pode fazer as pessoas ficarem mais doentes, e ficando mais doentes ficam mais pobres”.
Eugénio da Fonseca contribuiu para a reflexão sobre este Dia Mundial da Pobreza através do livro “Jesus representa todos os Pobres – subsídios para o dia Mundial dos Pobres”. O autor defende ser “um livro que pode ser aproveitado para além dos Dia Mundial dos Pobres”, por isso, “desejaria que os grupos socio-caritativos e as instituições sociais da Igreja pudessem ter a oportunidade de refletir sobre os nove pontos que o Santo Padre propõe (na mensagem para o dia mundial dos pobres)”.
Nesta entrevista, explica que “o título dado ao livro é para usar uma expressão do Santo Padre”, mas admite que “todos nós sabemos que Jesus não representa só os pobres, pois Jesus está nos pobres”.
O autor quer que este livro seja “um pequeno subsídio” para ajudar a diocese de Pemba, em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. “O livro custa cinco euros, mas a editora-as Irmãs Paulinas - que não cobraram nada pelo custo - irão enviar dois euros para a diocese de Pemba para ajudar aqueles pobres que estão a ser vítimas de atos terroristas altamente criminosos”.
No próximo domingo assinala-se o V Dia Mundial dos Pobres. O Papa Francisco instituiu a data em 2016 inspirado na experiência do Jubileu da Misericórdia e celebra-se no penúltimo domingo do ano litúrgico.
A celebração é inspirada no Ano Santo da Misericórdia (dezembro 2015-novembro 2016) e, particularmente, no ‘Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente’, que se celebrou no Vaticano a 13 de novembro, dia em que se fecharam as Portas Santas em todas as catedrais e santuários do mundo.
“Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreveu Francisco, na carta apostólica ‘Misericórdia e mísera’, com a qual marcou o final do Jubileu.