17 nov, 2021 - 09:23 • Filipe d'Avillez
Os bispos americanos escolheram um lusodescendente para chefiar a Comissão para o Culto Divino da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
A escolha foi feita na terça-feira durante o encontro plenário dos bispos americanos, que decorre em Baltimore, nos EUA.
Steven Lopes tem um currículo invulgar e foi escolhido pela diferença de apenas um voto numa eleição que foi também ela invulgar.
Lopes nasceu em 1975, na Califórnia, filho de pai português e mãe de ascendência polaca. Foi ordenado em 2001 e apenas quatro anos mais tarde foi para Roma onde integrou a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF).
Em 2015 o Papa Francisco nomeou-o ordinário do Ordinariato da Cadeira de São Pedro, a estrutura criada para acolher ex-anglicanos – Igreja Episcopal, nos EUA – que entram em comunhão com a Igreja Católica, mas querem preservar aspetos da sua herança litúrgica e espiritual. A nomeação causou alguma surpresa uma vez que o bispo Steven Lopes nunca pertenceu à comunhão anglicana. No caso do ordinariato do Reino Unido, por exemplo, foi escolhido um ex-bispo anglicano, agora sacerdote católico, para chefiar. Contudo, enquanto membro da CDF Lopes terá estado envolvido no desenvolvimento e implementação dos ordinariatos, criados ao abrigo da constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, publicada pelo Papa Bento XVI.
Este facto torna interessante a nomeação de Lopes para o departamento litúrgico uma vez que apesar de ter certamente um conhecimento aprofundado sobre questões litúrgicas, no seu dia-a-dia no ordinariato pessoal celebra segundo uma variante do rito romano, que incorpora aspetos da liturgia anglicana.
Ainda assim, o bispo Steven Lopes recebeu 121 votos contra os 120 do outro candidato, o arcebispo Mitchell Rozanski, de St. Louis.
Ao contrário de Lopes, Rozanski chefia uma diocese territorial. Contudo, o candidato esteve envolvido numa polémica litúrgica que poderá ter levado vários dos bispos a não votar nele.
Em junho de 2020, quando era ainda bispo de Springfield, no Massachussets, em plena pandemia, Mitchel Rozanski tentou contornar a proibição de contacto direto dos capelães com os doentes com uma medida que autorizaria os médicos e enfermeiros a administrar os óleos da unção dos doentes.
Segundo este plano os padres manter-se-iam perto, mas sem contacto direto com o doente e passariam o algodão com os óleos a um profissional de saúde que depois o aplicaria à vítima.
Apesar de bem-intencionada, a medida gerou fortes críticas e acabou por merecer uma clarificação precisamente da Comissão para o Culto Divino a explicar que para o sacramento ser válido tem de ser administrado fisicamente pelo sacerdote ou bispo.
A nomeação de Lopes para este cargo é importante também na medida em que os Estados Unidos são um dos países mais afetados pelas chamadas “guerras litúrgicas” na Igreja Católica, que opõem católicos de pendor tradicionalista e que preferem a celebração do rito antigo, frequentemente conhecido como rito tridentino, e os católicos que preferem o rito romano reformado depois do Concílio Vaticano II.
No verão de 2021 o Papa Francisco publicou um documento que restringe bastante o uso do rito antigo, que tinha sido liberalizado pelo Papa Bento XVI.