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mensagem para o Dia Mundial da Paz

Papa propõe diálogo, educação e trabalho como instrumentos para a paz

21 dez, 2021 - 10:30 • Olímpia Mairos

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se assinala a 1 de Janeiro, Francisco lembra os efeitos da pandemia de Covid-19 e apela ao empenho de todos para a construção de uma paz duradoura.

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O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se celebra no dia 1 de janeiro de 2022, começa por lamentar que “infelizmente”, ainda hoje o caminho da paz permanece “arredio da vida real de tantos homens e mulheres e consequentemente da família humana”.

“Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária”, lamenta o Papa.

Francisco lembra que “todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico, partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados” e propõe três caminhos “para a construção duma paz duradoura”.

“Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana”, elenca o pontífice, realçando tratar-se de “três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social», sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz”.

Dialogar entre gerações para construir a paz

O Papa alerta que num mundo ainda fustigado pela pandemia, que tem causado tantos problemas, em que “alguns tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva”, o caminho para ultrapassar “a indiferença egoísta e o protesto violento” é o do “diálogo, [concretamente] o diálogo entre as gerações”.

“A crise sanitária atual fez crescer, em todos, o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos. Às solidões dos idosos veio juntar-se, nos jovens, o sentido de impotência e a falta duma noção compartilhada de futuro. Esta crise é, sem dúvida, aflitiva, mas nela é possível expressar-se também o melhor das pessoas”, afirma Francisco.

E, para o Papa, é preciso dialogar e tal “significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos”.

“Favorecer tudo isto entre as gerações significa amanhar o terreno duro e estéril do conflito e do descarte para nele se cultivar as sementes duma paz duradoura e compartilhada”, esclarece.

A instrução e a educação como motores da paz

Francisco sublinha que nos últimos anos “diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação”, alertando que “instrução e educação são os alicerces duma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso”.

“Ao contrário, aumentaram as despesas militares, ultrapassando o nível registado no termo da «guerra fria», e parecem destinadas a crescer de maneira exorbitante”, denuncia o Papa.

Neste contexto, Francisco alerta que “é oportuno e urgente que os detentores das responsabilidades governamentais elaborem políticas económicas que prevejam uma inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos”.

“Aliás, a busca dum real processo de desarmamento internacional só pode trazer grandes benefícios ao desenvolvimento dos povos e nações, libertando recursos financeiros para ser utilizados de forma mais apropriada na saúde, na escola, nas infraestruturas, no cuidado do território, etc”, explica.

Na sua mensagem, o pontífice faz votos de que “o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado”, destacando que “perante a fragmentação da sociedade e a inércia das instituições, esta cultura do cuidado pode-se tornar a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes”.

“É necessário, portanto, forjar um novo paradigma cultural, através de «um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras». Um pacto que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente”, defende.

Segundo Francisco, “investir na instrução e educação das novas gerações é a estrada mestra que as leva, mediante uma específica preparação, a ocupar com proveito um justo lugar no mundo do trabalho”.

Promover e assegurar o trabalho constrói a paz

O Papa lembra que a pandemia Covid-19 “agravou a situação do mundo do trabalho, que já antes se defrontava com variados desafios”, recordando que “faliram milhões de atividades económicas e produtivas; os trabalhadores precários estão cada vez mais vulneráveis; muitos daqueles que desempenham serviços essenciais são ainda menos visíveis à consciência pública e política; a instrução à distância gerou, em muitos casos, um retrocesso na aprendizagem e nos percursos escolásticos”.

“Além disso, os jovens que assomam ao mercado profissional e os adultos precipitados no desemprego enfrentam hoje perspetivas dramáticas”, alerta.

Francisco define como “particularmente devastador” o impacto da crise na economia informal, que muitas vezes envolve os trabalhadores migrantes.

“Muitos deles – como se não existissem – não são reconhecidos pelas leis nacionais; vivem em condições muito precárias para eles mesmos e suas famílias, expostos a várias formas de escravidão e desprovidos dum sistema de previdência que os proteja”, indica.

O Papa não esquece que “atualmente apenas um terço da população mundial em idade laboral goza dum sistema de proteção social ou usufrui dele apenas de forma limitada” e alerta que em muitos países, “crescem a violência e a criminalidade organizada, sufocando a liberdade e a dignidade das pessoas, envenenando a economia e impedindo que se desenvolva o bem comum”.

“A resposta a esta situação só pode passar por uma ampliação das oportunidades de trabalho digno”, diz o Papa, pedindo a união de ideias e esforços “para criar as condições e inventar soluções a fim de que cada ser humano em idade produtiva tenha a possibilidade, com o seu trabalho, de contribuir para a vida da família e da sociedade”.

Francisco nota que “é urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação”, sublinhando que “é necessário garantir e apoiar a liberdade das iniciativas empresariais e, ao mesmo tempo, fazer crescer uma renovada responsabilidade social para que o lucro não seja o único critério-guia”.

Nesta perspetiva, esclarece o pontífice, “devem ser estimuladas, acolhidas e sustentadas as iniciativas, a todos os níveis, que solicitam as empresas a respeitar os direitos humanos fundamentais de trabalhadoras e trabalhadores, sensibilizando nesse sentido não só as instituições, mas também os consumidores, a sociedade civil e as realidades empresariais”.

A terminar a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, Francisco agradece a “quantos se empenharam e continuam a dedicar-se, com generosidade e responsabilidade, para garantir a instrução, a segurança e tutela dos direitos, fornecer os cuidados médicos, facilitar o encontro entre familiares e doentes, garantir apoio económico às pessoas necessitadas ou desempregadas”, assegurando a oração, a lembrança de todas as vítimas e suas famílias.

“Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho”, conclui Francisco.

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