25 dez, 2021 - 10:14 • Filipe d'Avillez
Um Natal “despojado” e vivido “entre o medo e a esperança” é como o bispo de Pemba descreve a situação este ano no norte de Moçambique.
“Aqui na diocese de Pemba, província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, o Natal é este ano de certa forma despojado e vivido entre o medo e a esperança, porque a situação do terrorismo prevalece, as pessoas estão expostas ao medo, à insegurança permanente e ao futuro incerto.”
“Temos ainda, na diocese de Pemba, e nas dioceses vizinhas, mais de 800 mil deslocados internos, vítimas desta situação dos ataques terroristas em Cabo Delgado e já, desde há alguns dias também, no norte da Província de Niassa. Acrescenta ao número de deslocados novos movimentos de pessoas que vão procurando locais onde se abrigarem”, diz o bispo, que assumiu a diocese este ano, depois de o seu antecessor, D. Fernando Luiz Lisboa, ter sido removido pelo Papa Francisco devido ao facto de ter recebido ameaças à sua vida.
Os terroristas islâmicos que atuam no norte de Moçambique continuam a espalhar o medo e a morte, explica D. António, que dá como exemplo o homicídio recente de um membro ativo da Igreja local. “Os ataques às populações continuam e assim continuando o número de deslocados ainda vai aumentar. Na semana passada, a 15 de dezembro, um dos nossos catequistas, o senhor Matias, animador da palavra da comunidade de São Paulo de Macomia, foi encontrado no seu campo de cultivo, fazendo trabalhos agrícolas, e foi decapitado. Assim acontece também com várias outras pessoas que são surpreendidas nas zonas onde se encontram, e onde não tinha havido ataques anteriormente. Isso mostra que a situação de insegurança entre as populações de Cabo Delgado, permanece. E o Natal está a ser vivido nestas condições difíceis.”
Se a maior dificuldade é vivida pelos que tiveram de fugir das suas casas, nas aldeias perto da zona de conflito as celebrações que se realizam são feitas com muito cuidado. “Os deslocados ainda continuam a tentar sobreviver e passarão o Natal nestas condições, sem comida na mesa, sem poderem se alegrar e sem os convívios que habitualmente tinham nas suas zonas de proveniência anteriores. Mas vão passar com esperança de que dias melhores venham no futuro. Nas zonas onde o terrorismo afetou grandemente não temos missionários, os cristãos que estão nas aldeias que não foram afetadas celebrarão o Natal apenas com as celebrações da Palavra, sem a celebração da Eucaristia, e terão de fazer estas celebrações em tempo seguro e quando verificarem que existem condições de segurança.”
Com tanta gente a viver de forma precária a Igreja faz questão de sair e ir ao encontro de quem não tem mais nada. D. António vai passar parte deste dia de Natal com os deslocados. Leva pouco mais do que a sua presença e companhia, e algumas surpresas para as crianças.
“No dia 25 junto-me à equipa de outros missionários para celebrar a Santa Missa do Natal numa aldeia de reassentamento em Chiure. Depois da celebração permanecerei por algum tempo mais para partilhar um pouquinho da minha presença com os deslocados, na maior simplicidade possível, e também levaremos alguns doces para oferecer às crianças do centro de reassentamento, mas apenas as crianças, e fazendo alguma animação.”
“Esta iniciativa, neste período de Natal, de oferecer alguma coisa às crianças de famílias deslocadas é uma iniciativa generalizada. Vários missionários e missionárias estão a fazê-lo nas suas respetivas paróquias, ao menos para oferecer às crianças esta alegria de estarem no Natal, porque não podem receber presentes dos seus pais e então os missionários fazem este gesto que alegra bastante as crianças”, diz.
A situação de conflito em Cabo Delgado vive-se já há mais de três anos e continua a provocar mortos e centenas de milhares de deslocados internos.