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Évora

Casa da Bênção. “Somos marionetas a cumprir a vontade de Deus” na ajuda aos pobres

17 fev, 2022 - 19:57 • Rosário Silva

Com quatro anos de existência, a equipa da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, na cidade de Évora, não quis ficar apenas pelas celebrações religiosas. Em resposta ao apelo do arcebispo, D. Francisco Senra Coelho, enveredou também pelo trabalho de cariz social. A Casa da Bênção nasceu há um ano e já apoia 72 pessoas e cerca de 28 famílias.

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O voluntariado não tem segredos para Maria José, desde muito nova, acostumada a ajudar quem mais precisa. Por isso, quando foi desafiada a dinamizar a Casa da Bênção, na cidade de Évora, não hesitou um instante.

No inicio, nem sequer tinha nome, era apenas a vertente social da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, recuperada há cerca de quatro anos, por um grupo de pessoas associadas à paróquia de Santo Antão, em pleno coração da cidade de Évora.

Para não ficar apenas pelas celebrações religiosas e em resposta ao apelo do arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, a Real Irmandade enveredou também pelo trabalho de cariz social, criando há cerca de um ano, a Casa da Bênção.

“Fazemos um pouco de tudo, mas o principal é escutar as pessoas, entrar um pouco na sua vida, tentar entendê-las e dar-lhes a ajuda que precisam, não só material, mas também psicológica e, muitas vezes, espiritual, uma vez que este projeto ligado à Igreja só tem razão de existir se houver a componente catequética”, refere, à Renascença, Maria José.

Apesar da tenra idade, a Casa da Bênção já dá apoio a 28 famílias e 72 pessoas, registando uma procura crescente. “Quase semanalmente temos um novo pedido de ajuda, ao qual procuramos dar resposta”, menciona a coordenadora do espaço, revelando a existência de alguns casos complicados.

“Nessa altura vamos a casa das pessoas visitá-las, dar-lhes a parte material, mas essencialmente dar o apoio moral”, acrescenta.

Um trabalho que é desenvolvido em equipa, num espaço exíguo, mas cheio de muita generosidade. “Tem sido uma experiência muito desgastante, mas muito enriquecedora e estou muito agradecida por ter esta oportunidade de fazer algo pelos outros, pois é algo concreto e que nos faz pensar”, adianta Maria José.

Ali, selecionam-se, lavam-se e guardam-se roupas, fazem-se cabazes com alimentos e atendem-se os que não têm vergonha de confessar as suas necessidades.

Uma realidade que não surpreende Marília Aleixo, outra das voluntárias, também empenhada na entreajuda. “Sempre me dediquei bastante ao próximo e, neste universo de consumismo que existe à nossa volta, muitas pessoas não se apercebem das grandes necessidades que existem e é preciso estar atento”, alerta, Marília.

Como cristã, sublinha, “o nosso papel passa um bocadinho por ajudar o próximo”, aplicando “no dia-a-dia” a expressão de Jesus Cristo, “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.

E se não fosse a fé neste ‘amor maior’, Cristina Fialho não subtraía tempo ao marido e aos três filhos menores, para se dedicar à Casa da Bênção. Foi uma das fundadoras da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e a dedicação à causa já extravasou tudo o que era perspetivado no inicio.

“Temos conseguido várias parcerias. Já tínhamos o Banco Alimentar, conseguimos fazer também uma parceria com a Fundação do Sporting, enviando roupas para Timor, mas há tantas mais como a colaboração com a Junta de Freguesia ou o Banco do Tempo. E ajudamos também umas freiras do Torrão que vieram para cá sem nada”, destaca a voluntária de 38 anos.

Empresária de profissão, Cristina consegue encontrar tempo para tudo, pois “ajudar quem tem necessidade” é um dever.

“É muito gratificante e estou muito agradecida a todos os que têm colaborado connosco, uma vez que existe muita gente que precisa de apoio, há muita pobreza envergonhada e nós procuramos chegar a essas pessoas”, refere.

Cristina Fialho espera que 2022 seja um ano de consolidação deste projeto, “com novas parcerias”. Já Marília Aleixo, apesar de reconhecer que “não é um trabalho fácil”, deseja que esta “obra chegue a todos os que precisam de ajuda”. Palavras repetidas por Maria José: “Desejava poder ajudar todos aqueles que nos batem à porta ou nos são indicados. Não queremos excluir ninguém”.

“Somos resultado desta equação de Deus”

A finalidade é mesmo que ninguém fique de fora, caso necessite de algum apoio, seja material ou espiritual. Com um ano de vida, a Casa da Bênção surge para dar cumprimento “à ideologia e aos estatutos da Real Irmandade da Senhora da Saúde”, esclarece, Ricardo Maria Louro.

O jovem Juiz da Real Irmandade explica à Renascença, que o projeto é criado porque, por um lado, “havia muita vontade de dar apoio a pessoas com necessidades, seja de solidão ou alimentação”, por outro lado, “o nosso arcebispo, D. Francisco, por dois ou três momentos disse-nos para não ficarmos apenas a rezar, mas desafiou-nos a criar um projeto desta natureza e foi o que fizemos”.

Nessa altura, a Cáritas paroquial, que funcionava na porta ao lado da Igreja de Santo Antão, em plena Praça do Giraldo, estava a necessitar de um novo alento e o pároco, o cónego Manuel Maria Madureira, cedeu o espaço à Real Irmandade, para que fosse gerido, agora, como Casa da Bênção.

“É, de facto, uma bênção, podermos ter este núcleo social da Real Irmandade da Senhora da Saúde”, afirma o dinamizador, acrescentando que as pessoas ajudadas, “muitas delas, são da paróquia, mas como a Irmandade da Senhora da Saúde é de toda a cidade e até do país, acabamos por ajudar quem nos solicita, mesmo fora do centro histórico”.

E há um pouco de tudo: pessoas com rendimentos muito baixos, outras que vivem em condições de habitabilidade muito precárias, idosos com parcas reformas ou mães que sustentam sozinhas os seus filhos.

“Nós sabemos que existem muitas necessidades, mas quando fomos confrontados com a verdadeira realidade, caiu-nos o queixo”, confessa, Ricardo Maria Louro, ao mesmo tempo que realça “a generosidade, quer de particulares, quer de empresas ou instituições” que não medem esforços para que ninguém fique sem ter o apoio necessário no momento.

A pandemia agravou muitas das situações já sinalizadas, mas nada que faça desistir este grupo de voluntários que se regem por uma profunda devoção a Nossa Senhora.

“É interessante, como num ano, uma coisa que não existia, foi crescendo, crescendo, crescendo, até chegar aqui, seguramente amparados por Nossa Senhora, com a mão de Deus nos comandos. Nós somos apenas marionetas a cumprir a vontade divina. Somos resultado desta equação de Deus.”, conclui, convicto, o Juiz da Real Irmandade da Senhora da Saúde.

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