06 mar, 2022 - 22:38 • Teresa Paula Costa
Centenas de pessoas encheram a Sé de Leiria, nesta tarde de domingo, para participarem na última missa presidida por D. António Marto, enquanto bispo da diocese de Leiria-Fátima.
Foi o adeus a "uma pessoa formidável" como alguns diocesanos o classificaram à Renascença. "Um bispo extraordinário que acompanhou sempre a diocese", disse Manuel Delgado, antes de entrar na catedral leiriense.
Também Maria de Lurdes admitiu que "vamos ter muita pena dele, por ir embora", mas "é a vida", acrescentou, resignada.
Para D. António Marto chegou a hora de dar lugar aos outros. No caso, D. José Ornelas que, no dia 13 de março, tomará posse como bispo da diocese de Leiria-Fátima.
O cardeal disse aos jornalistas estar a viver esta fase da vida com "muita serenidade" e "muita naturalidade".
"Há um tempo para tudo, há um tempo para começar e há um tempo para terminar", disse D. António Marto que vai passar a residir em Fátima. Por isso, vai "deixar de ter protagonismo", o que não lamenta de todo, já que "o protagonismo vai agora para outro bispo".
Por isso, "estava no palco e agora vou para os bastidores", ficando com "mais tempo para a minha colaboração com o dicastério de Roma ao qual pertenço".
Na homilia da celebração, o cardeal D. António Marto lamentou o facto de "muitos dos nossos contemporâneos não conhecerem mais a mensagem do evangelho."
Questionando se "voltamos aos primeiros tempos da Igreja em que havia apenas pequenos grupos de cristãos num mundo pagão e indiferente", o cardeal pediu aos cristãos que "comecemos por desenvolver em nós uma saudável tomada de consciência da nossa identidade cristã", "sem pretensão nem orgulho".
Mas é preciso mais, apontou o cardeal, para quem "como cristãos devemos tomar parte na cultura da nossa época, na ciência, nos seus progressos, no fabuloso desenvolvimento das novas tecnologias, na arte, na sensibilidade." O que implica "discernimento", pois "nem tudo o que é proposto no mercado global da nossa cultura tem o mesmo valor."
Aos cristãos, cabe "trabalhar pela fraternidade e amizade social, pela justiça, a solidariedade e a paz, combater a fome e a violência, cuidar e salvar o nosso planeta como casa comum de todos", lembrou D. António Marto.
"Mas talvez o mundo tenha necessidade de algo mais da nossa parte: a reconciliação e o perdão entre nós e em toda a parte; entre todos de povos, raças e culturas diferentes, mas que vivem juntos."
"Os homens e as mulheres do nosso tempo precisam de tomar consciência de que nem só de pão, de algoritmos vive o homem! Vive também de Deus e da sua ternura, da fraternidade e da amizade social, da cultura do encontro e do cuidado recíproco, da reconciliação, do perdão e da paz dos corações", concluiu o cardeal D. António Marto.
No final da celebração, foi apresentado o livro "Cardeal D. António Marto - teólogo e pastor ".
O livro reúne as cartas pastorais que d. António Marto escreveu ao longo dos 16 anos em que esteve à frente da diocese de Leiria-Fátima e ainda 100 citações de vários textos do cardeal sobre aspetos da vida e pensamento do cardeal, além das suas armas de fé. e notas biográficas.
A obra está à venda na Gráfica de Leiria.