08 mar, 2022 - 15:41 • Ana Lisboa
A Comissão Nacional Justiça e Paz afirma que a mensagem do Papa para esta Quaresma "reveste-se de uma força profética".
Em comunicado, este organismo diz que num "momento em que, perplexos, assistimos a acontecimentos que julgávamos já não serem possíveis, por nos parecer que seria incompreensível não ter aprendido as lições da história, no momento em que as vozes da destruição e da guerra parecem gritar mais alto, somos convidados, (pelo Papa) com toda a veemência, a que não nos cansemos nunca de fazer o bem".
Acrescenta ainda que Francisco "propõe-nos uma reflexão dividida em 3 pontos" quando na sua mensagem para esta Quaresma se inspirou na Carta aos Gálatas: "Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (Kairós), pratiquemos o bem para com todos".
No primeiro ponto sobre a sementeira e a colheita e qual o tempo favorável para semear, a CNJP considera que "a resposta dada pelos cristãos deve ser clara e inequívoca: o tempo favorável é o tempo presente", ou seja, "cada tempo que vivemos tem de ser o tempo favorável para fazer o bem".
E os cristãos "não podem, neste momento tão grave da história, deixar de semear o bem. Neste sentido, esta Quaresma tem de ser tempo favorável para repensarmos o modo como estamos a educar e formar as novas gerações. O que ensinamos nas nossas escolas, o que partilhamos nas nossas catequeses, o que refletimos nas nossas formações tem de ser sementeira para criarmos um mundo diferente".
No segundo ponto, o Santo Padre "sublinha a importância do compromisso dos cristãos e das suas comunidades com o bem, alertando para as dificuldades que certamente terão de ser enfrentadas".
A propósito, a Comissão Nacional Justiça e Paz refere que "o último estádio de uma crise, dizem alguns, costuma manifestar-se por uma situação de 'saturação indiferente'. Esse é certamente um dos maiores perigos que corremos. O cansaço pode começar a querer ganhar terreno, porque os resultados não aparecem, porque a colheita ainda se vislumbra muito longínqua, possibilitando que se comece a instalar a indiferença que nos pode fazer olhar para a realidade considerando que pouco ou nada há a fazer e facilitando, por sua vez, o aparecimento da tentação de nos instalarmos no interior dos nossos grupos e comunidades como zonas de conforto e segurança".
Por isso, diz, "a Quaresma é também o tempo favorável para mapearmos aquilo que nas nossas vidas e comunidades é sinal de uma tristeza individualista, de um coração comodista e mesquinho e de uma consciência isolada, de modo a podermos verdadeiramente promover a dinâmica do dom, que se preocupa em defender e promover a vida de todos e em todas as ocasiões".
No terceiro e último ponto, o Papa lembra-nos que "a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido". O bem, o amor, a justiça e a solidariedade, como se diz na Fratelli Tutti nº 11, "não se alcançam de uma vez para sempre, tendo de ser conquistados cada dia".
"O mesmo se pode e deve dizer acerca da paz. Ela é mesmo um compromisso inadiável para todos os que se dizem cristãos", escreve no seu comunicado a CNJP.
Este tempo de Quaresma "é também o tempo favorável para vermos e identificarmos tudo o que nas nossas vidas e nas nossas sociedades se configura como obstáculo à paz, de modo que possa ser removido".
A nota deste organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa termina a dizer que "ainda a viver as consequências de uma pandemia global que não está terminada, somos agora confrontados com os horrores da guerra, que se mostram evidentes no território europeu, mas que têm estado presentes em tantos outros territórios, apesar de não serem tão visíveis, ou de nós não os vermos com tanta evidência".
Consequência deste conflito, "uma imensa vaga de refugiados desta guerra vem ainda aumentar esse número, já gigante, de tantos irmãos nossos deslocados. Acolher os que fogem da guerra, vivendo com eles a experiência da hospitalidade, é certamente hoje uma das maneiras de concretizar uma das obras de misericórdia".
E acrescenta, "a preparação da celebração da Páscoa pode nesta Quaresma passar, de um modo muito concreto, pelo exercício deste acolhimento, porque, não tenhamos medo de o afirmar, a verdade sobre a nossa fé acontece também quando cuidamos dos sofrimentos dos outros, ou passamos ao largo".
Perante "estes enormes desafios que nos interpelam enquanto humanidade e enquanto cristãos, somos chamados, de um modo especial nesta Quaresma, a renovarmos as nossas vidas à luz do Evangelho e a comprometermo-nos, todos os dias e sempre, com a construção da paz e a realização do bem", reconhece a Comissão Nacional Justiça e Paz.