11 mar, 2022 - 14:20 • Henrique Cunha
“Podemos rezar por quem mata?” A pergunta foi colocada durante
uma eucaristia, em Lviv, e reproduzida numa reportagem do jornal "Público".
Numa altura em que, por cá, se multiplicam as iniciativas pela paz na Ucrânia e as vigílias de oração, o padre Jerónimo Trigo, professor de Teologia Moral da Universidade Católica Portuguesa, sublinha, em declarações à Renascença, a importância da oração em tempo de guerra.
O sacerdote lembra que na oração “pedimos a Deus que ilumine a mente do agressor, o seu coração de modo a que troque os gestos de morte por gestos de vida”.
O professor de Teologia Moral sublinha que isso é o que podemos fazer “em relação à pessoa que mata”, mas lembra, por outro lado, que “há outra dimensão, que é em relação a nós próprios”, em que a oração “por aqueles que fazem o mal, no caso por quem assassina, é uma oração que também nos pode libertar do sentimento de vingança”.
“Nesse sentido, a oração, para as pessoas que oram, é também curativa, é também pacificadora dos próprios sentimentos de raiva e de vingança e de ressentimento”, reforça.
Já quando rezamos pelo assassino, devemos “pedir a Deus que o ilumine, o toque no seu coração, de modo a perceber que de facto aquilo que está a fazer é muito mau”.
O padre Jerónimo Trigo entende que “a resistência ao mal é totalmente legitima é até poderosa” e recorda que estamos perante uma “questão clássica da resistência ao opressor, da guerra justa defensiva”.
Para professor da Universidade Católica, “é legitimo resistir ao opressor, desde que não se caia na opressão, pois há sempre um equilíbrio muito difícil de conseguir”.
Sem se referir de forma direta ao papel que a Igreja Católica Ortodoxa Ucraniana tem vindo a desempenhar desde o início da guerra, o sacerdote diz que “é árduo dirimir se isso [a resistência] há-de ser conduzida pela dimensão religiosa pela dimensão da Igreja ou pela dimensão política”, mas “há obrigação de resistir ao mal, com certeza”.
Jerónimo Trigo explica ainda que “a Igreja ortodoxa russa, o Patriarca Cirilo está do lado da política agressiva do seu país” porque “é uma Igreja muito unida ao Estado e, portanto, é um pouco legitimadora e talvez, até, uma espécie de Igreja da Corte, como que põe, digamos, o selo religioso, o 'agreement', o 'nihil obstat' nas ações que do ponto de vista politico e militar são feitas”.
Aí, afirma o sacerdote “podemos discutir o sentido profético da própria Igreja" e questionar “a fidelidade ao Evangelho ou a fidelidade a um poder político que tomou uma ação que todos considerados má”.
No início do conflito, o Patriarca de Moscovo pediu “o fim da tragédia”. “Peço a toda a Igreja Ortodoxa Russa que faça uma profunda e fervorosa oração pela rápida restauração da paz”, disse Cirilo I.
Por último, o padre Jerónimo Trigo lembra que “do ponto de vista da Igreja Católica, é importante colocar-se como mediadora da paz” e sublinha que “o Papa nunca disse, claramente, que houve uma invasão, diz que houve uma agressão á Ucrânia”.
"Isso, certamente, é feito pelo motivo de a Igreja se querer manter acima das partes e de poder ser mediadora em vista da paz”.
“O Papa Francisco apelou no início da Quaresma para ações de oração, de penitencia em vista de se conseguir a paz”, reforça o professor de Teologia Moral.