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“Estamos aqui na guerra, mas é toda a Igreja que está a combater connosco”

24 mar, 2022 - 20:26 • Ângela Roque

Sacerdote em Kiev conta à Renascença como a Consagração do país ao Imaculado Coração de Maria está a ser preparada. E fala do dia a dia na sua paróquia que acolhe dezenas de pessoas, e onde já celebraram três casamentos desde que a guerra começou, um deles de um soldado ucraniano.

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A iniciativa do Papa consagrar esta sexta-feira a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria está a ser preparada com particular emoção em Kiev. O padre Lucas Perozzi, vigário da igreja da Dormição da Santíssima Virgem, lembra que desde que começou a guerra que a Igreja ucraniana já confia diariamente o futuro do país a Nossa Senhora.

“A Consagração começou por ser pedida pela conferência episcopal da Ucrânia. Estamos a preparar-nos com uma novena à Santíssima Virgem Maria, e hoje foi decretado um dia de oração e jejum”. Amanhã, garante, nada os impedirá de acompanhar a celebração.

“Apesar de termos o toque de recolhida (recolher obrigatório) às 8h da noite, passámos a missa das 5 h da tarde para as 6h, para fazer o mais próximo possível junto com o Papa este ato de Consagração (a partir das 16h, em Lisboa). Porque o mesmo texto que vai ser lido no Vaticano, e também em Fátima, nós temos em ucraniano e vamos ler aqui em cada paróquia”.

Na zona onde vive, que fica a 15 minutos de carro do centro de Kiev, a guerra continua a só se ouvir ao longe. O padre Lucas acredita que é pelo poder da oração “de muitos” que se mantêm protegidos. “Sim, como não? Fico impressionado. Pergunto sempre porque em toda a cidade de Kiev tem bombas que caem, acontecem muitas coisas, e na nossa região não acontece nada? É como se se tivesse formado uma cúpula em cima do nosso bairro, que não deixasse cair os mísseis, muito menos entrar o exército russo, porque eles ainda não conseguiram entrar aqui! Estou convencido que é pelas orações!”

Tem um mundo de gente rezando por nós. Nós estamos aqui na guerra, mas é toda a Igreja que está a combater connosco. Não estamos sozinhos”, assegura o sacerdote do Caminho Neocatecumenal.

Na paróquia os dias vão sendo vividos com relativa normalidade. “Por enquanto estamos bem. Estamos aqui à volta de 30 pessoas”, conta, sublinhando que o medo inicial foi dando lugar a outro tipo de sentimento. “A guerra também pode entrar na rotina, sabe?”.

O importante “é estar apoiado na Palavra”, e não perder a fé. “A esperança é o que nos mantém de pé”, sublinha.

Desde que a guerra começou, há um mês, até já celebraram três casamentos na paróquia, um deles de um soldado ucraniano, que se casou “à pressa”, e fardado. “Falou connosco um dia, e casou no outro. Estava a servir aqui, mas a qualquer momento podiam levá-lo para outro lugar, por isso foi tudo feito meio à pressa”.

“Celebrámos o casamento, a cerimónia, depois fizemos o que pudemos, com o que tínhamos, um pouquinho de festa juntos. Isso também ajuda a não ficar vivendo simplesmente a situação de horror, e continuar vivendo a vida como ela está indo”, conta.

O padre Lucas volta a falar da Consagração do país, que esta sexta-feira unirá a Igreja Universal. “É muito importante, mesmo, saber que o Papa está ao nosso lado, sentir esta proximidade com os que sofrem”. Devoto de Nossa Senhora, gostava que a imagem peregrina de Fátima, que está na Ucrânia, chegasse a Kiev, mas sabe que será pouco provável. “Para vir de Lviv aqui não é seguro. Teria de ser alguém com coragem para trazer a imagem”. Para já, esta sexta-feira estará unido ao Vaticano e à Cova da Iria, pelo fim da guerra.

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