31 mar, 2022 - 08:30 • Isabel Pacheco
Alex, natural de Kiev, juntou-se de carro à caravana de camionetas que partiu da Polónia rumo a Barcelos. Chegou de improviso com a família ao Seminário da Silva - Centro Espírito Santo e Missão, dos Missionários Espiritanos, transformado, por estes dias, em centro de acolhimento temporário para refugiados.
“Conduzi de Kiev até à Polónia durante uma semana. Da Polónia viemos para aqui”, conta o refugiado que chegou ao Minho com a mulher, a sogra, a cunhada e um sobrinho de 15 anos.
Alex soube da partida dos autocarros através da rede social Telegram. “Contactaram-nos avisar que alguns autocarros iam partir da Polónia para Portugal e viemos”, revela.
“Agora quero ficar aqui e ajudar outras pessoas a chegaram a este sítio”, remata.
A maioria dos ucranianos que chega a Barcelos segue para casa de familiares ou amigos residentes no nosso país. Outros ficam em casa de particulares como Ana Trigueiros, que acolheu Katya.
A ucraniana de 52 anos chegou sozinha a Portugal. Saiu de Karkiv “debaixo de bombardeamentos”, conta-nos. “Deixou a mãe e a filha que não quis vir porque tem o marido a lutar”, explicou a portuguesa.
Apesar de Katya não falar inglês, as duas conseguem comunicar “graças às tecnologias”.
“Temos uma aplicação no telemóvel. Funciona, bastante bem”, garante a professora reformada, dizendo-se pronta para receber mais refugiados. “Tenho mais um quarto preparado para receber uma mãe com uma criança ou um bebé”, revela.
Igor Lysyi é um dos voluntários no Seminário da Silva. O jovem ucraniano, a morar em Portugal desde 2009, é uma ajuda na hora de ultrapassar a barreira da língua e da integração.
“Liguei agora para o meu patrão para saber se há trabalho para mais uma senhora. Felizmente, já consegui arranjar emprego para, pelo menos, três senhoras. Duas delas vão trabalhar numa fábrica têxtil, a outra já começou o estágio numa pousada de turismo”, diz-nos, orgulhoso.
As ofertas de trabalho, de casa e de ajuda multiplicam-se, conta-nos o padre Eduardo Ferreira, diretor do Centro Espírito Santo e Missão.
O espaço serve de “primeiro porto de abrigo seguro” dos ucranianos que chegam ao concelho, explica.
“Há gente voluntariosa que não conhecemos de lado nenhum e que aparecem e dizem: vimos para ajudar. Às vezes fazem as camas, outros confecionam as refeições, organizam a roupa ou fazem serviço de copa”, descreve.
“Até já aqui veio um clube de boxe a mostrar disponibilidade para integrar no clube crianças e adolescentes”, revela.
O primeiro grupo de 69 refugiados (48 mulheres, 19 crianças e dois homens) chegou ao Seminário a 17 de março. Desde então, já passaram pelo Centro dos Missionários Espiritanos duas centenas de ucranianos.
“Esta é uma casa com capacidade para 50 camas no máximo, mas foi pedido para alargar. Fomos alargando, colocando uma segunda cama, mais uns beliches e manifestamos disponibilidade para acolher 90 pessoas. Alargamos a tenda”, brinca o responsável.
Nenhum refugiado deixa o seminário sem ter outro sítio onde ficar, garante o Padre Eduardo Ferreira. Um trabalho de retaguarda que é desenvolvido pela autarquia de Barcelos, que mantem no seminário uma equipa de apoio permanente.
Filipe Ribeiro integra a equipa e conta que a autarquia “não tem a iniciativa própria de ir buscar pessoas”. O trabalho é, sobretudo, de apoio e de “retaguarda”.
“Nos dias de acolhimento de refugiados há 50 pessoas envolvidas no grupo de trabalho pronto para receber, acolher, tratar das questões de saúde e de toda a burocracia”, revela o adjunto da vereação da Ação Social da câmara de Barcelos.
Quase todas as semanas chegam ucranianos ao Centro dos Missionários Espiritanos, o primeiro porto de abrigo para quem chega a Barcelos fugido da guerra.