22 abr, 2022 - 10:55 • Ângela Roque
O Papa Francisco reafirma que está disposto a “fazer tudo” para acabar com a guerra na Ucrânia, mas ir a Kiev pode não ser o melhor neste momento. “Não posso fazer nada que ponha em risco objetivos superiores, que são o fim da guerra, uma trégua ou, pelo menos, um corredor humanitário”, afirma o Papa ao jornal argentino ‘La Nacion’, acrescentando: “de que serviria ir a Kiev, se a guerra continuasse no dia seguinte?”.
Na entrevista, Francisco garante que a diplomacia do Vaticano “nunca descansa” e continua a atuar, confirmando que “há sempre negociações”, cujos detalhes “não se podem contar”.
Sobre a deslocação que fez à embaixada da Rússia no Vaticano, assim que a Ucrânia foi invadida, explica que tomou a decisão “numa noite de vigília”, e que foi sozinho porque aquela era “uma responsabilidade pessoal” sua. Diz que é “claro, para quem quiser ver” que o seu gesto apontou “para o governo que pode pôr fim à guerra”. Mas, interrogado sobre a razão de nunca se referir a Putin, nem à Rússia, quando fala da invasão da Ucrânia, Francisco explica que um Papa “nunca nomeia um chefe de Estado, muito menos um país, que é superior ao seu chefe de Estado”.
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Já a recente decisão de beijar a bandeira ucraniana, diz que foi “um gesto de solidariedade para com os seus mortos, as suas famílias e os que foram obrigados a deixar o país”.
Na entrevista é, ainda, abordada a relação da Igreja católica com a Igreja Ortodoxa Russa, e em particular com o Patriarca de Moscovo. Francisco diz que é uma relação “muito boa”, e lembra que sempre promoveu o diálogo inter-religioso. “Quando era arcebispo de Buenos Aires consegui pôr em diálogo cristãos, judeus e muçulmanos. Foi uma das iniciativas de que mais me orgulho, e é esta mesma política que promovo no Vaticano”, afirma.
Até hoje, Francisco foi o único Papa com quem o Patriarca Cirilo aceitou reunir-se, e o próximo encontro estava previsto para junho, em Jerusalém, mas foi suspenso. “A nossa diplomacia entendeu que uma reunião, neste momento, poderia causar muita confusão”, revela o Papa nestas declarações ao ‘La Nacion’.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU – a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).