25 abr, 2022 - 16:52 • Henrique Cunha
O Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reafirma “o nosso pedido de perdão, em nome da Igreja Católica”, às pessoas “que passaram pela dramática situação do abuso” e garante “empenho em ajudar a sarar as feridas”. No discurso de abertura da Assembleia Plenária, esta tarde, em Fátima, D. José Ornelas garantiu que “este tema não está encerrado e terá um lugar de destaque nos trabalhos da Assembleia” que vai decorrer até quinta-feira.
O Bispo de Leiria-Fátima afirma que o assunto exige dos bispos portugueses “acompanhamento ativo e cuidado para pôr em prática processos e atitudes que defendam a integridade, a dignidade e o futuro de todas as pessoas, particularmente as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade, na Igreja e na sociedade”.
O Presidente da CEP deixou “uma palavra de profunda gratidão a quem já se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores, marcadas certamente por feridas profundas” encorajou “as pessoas que ainda procuram o momento mais apropriado para se referirem ao que nunca devia ter acontecido nas suas vidas, para que o façam”. “Estamos convosco: acompanhamos-vos na vossa dor, queremos ajudar a repará-la e tudo faremos para prevenir situações como as que tiveram de enfrentar”, reforçou.
D. José Ornelas agradeceu o trabalho desenvolvido pelas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e o trabalho de coordenação do Procurador José Souto Moura, “assim como o trabalho da Comissão Independente”, coordenada por Pedro Strecht.
O Presidente da CEP lembrou que “infelizmente esta quadra (pascal) especialmente festiva ficou dramaticamente ensombrada pela bárbara e incompreensível guerra que se abateu sobre a Ucrânia, com consequências de trauma, destruição e morte para a população ucraniana e com consequências gravíssimas para toda a humanidade”. O bispo exprimiu “ao povo da Ucrânia a solidariedade, proximidade e oração da Igreja em Portugal”, e o sentido apresso “pelo movimento de solidariedade prática da população em geral e concretamente de muitas organizações eclesiais, visando minorar as consequências desumanas desta agressão”.
Ainda assim, o Presidente da CEP alertou para a necessidade de se “evitar o perigo de aproveitamentos ilícitos das pessoas vulneráveis e para encontrar os meios mais adequados às necessidades do povo ucraniano”. “É importante a ajuda de emergência, livrando as pessoas da guerra; mas não é menos importante a articulação entre as várias entidades acolhedoras para que essa ajuda garanta, de forma duradoura, a dignidade das pessoas e prossiga depois de um primeiro socorro”, sublinhou.
D. José Ornelas afirma que “todos os povos têm direito a lutar pela sua autodeterminação” e assegura que “a ambição cega de um regime não pode coartar ou beliscar esse direito, muito menos invocando razões históricas ou até religiosas” e defende que “aos poderes públicos exige-se competência: para travar a guerra, para encontrar soluções duradouras de paz e para gizar politicas que ajudem as populações a ultrapassarem os constrangimentos de uma economia de guerra e a viver com dignidade e paz”.
O bispo assinalou como “muito significativo para a Igreja em Portugal a celebração do Congresso realizado em Fátima e da memória celebrativa dos 375 anos da proclamação e coroação da Imaculada Conceição como Padroeira de Portugal”, sublinhando a “presença de grande parte dos membros do episcopado português, do Presidente da República e outros representantes da Nação”. “Foi uma clara manifestação de apreço pelas raízes identitárias cristãs do nosso povo e, ao mesmo tempo, sinal de abertura e integração num projeto universal de expressão europeia e mundial”, assegurou.
O presidente da
CEP recordou também a consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração
de Maria, realizada por iniciativa do Papa Francisco, em Roma e em Fátima,
quanto “expressão dos sentimentos de solidariedade e esperança ativa na
superação desta brutal agressão, assim como da continuidade da generosa
assistência aos que são vítimas dela”.
O Presidente da CEP deixou ainda uma palavra sobre o facto da Assembleia Plenária se iniciar “no dia celebrativo do 48º aniversário do 25 de Abril” e que significou “uma mudança fundamental de rumo do nosso país” com importantes “passos na construção de um país baseado nos valores da dignidade”, embora “o ideal de Abril permaneça ainda, em muitos aspetos, como meta a alcançar”.
O bispo iniciou a sua intervenção manifestando “uma sentida gratidão para com os irmãos no episcopado que concluíram recentemente um assinalável serviço à Igreja na Arquidiocese de Braga e na Diocese de Leiria-Fátima”, numa alusão a D. Jorge Ortiga e a D. António Marto respetivamente, e deu os parabéns à Diocese de Vila Real, na celebração dos 100 anos da sua fundação.
E terminou o seu discurso de abertura com uma referência à preparação da Jornada Mundial da Juventude. “Apesar das dificuldades da situação mundial, esperamos que este evento, que está a ser preparado em diálogo e com o contributo do Governo e das Câmaras de Lisboa e de Loures, possa ser um momento especial de encontro mundial da juventude, organizado pela Igreja católica e aberto aos jovens de todas as opções religiosas”, rematou.