04 mai, 2022 - 15:54 • Ângela Roque
Tem de haver um “maior esforço no acolhimento das pessoas”, em especial “das que vivem com problemas”, e mais “disponibilidade dos capelães” para ajudar quem precisa, evitando-se a “prepotência, indiferença e hierarquização da Igreja”. São algumas das conclusões do inquérito promovido pela diocese castrense no âmbito do processo sinodal em curso na Igreja.
De acordo com o documento, a que a Renascença teve acesso, responderam ao inquérito 957 militares a partir dos 21 anos de idade. A maioria das respostas registou-se na faixa etária dos 36 aos 50 anos, na Força Aérea (33%), GNR (27,3%), Marinha (18,6%) e Exército (20,7%). Apenas 0,3% das respostas foram da PSP.
Mais de 91% dos inquiridos afirmam-se cristãos, mas só metade se dizem “praticantes”. E embora 57,4% considere que a Igreja tem “um papel essencial” no acompanhamento dos militares e civis, apenas 17,9% dizem sentir-se “acolhidos” quando participam nas atividades das capelanias, e 42,3% dizem que há “pouca ou nenhuma” preocupação da Igreja com “a vida, opiniões, ideias, necessidades e expectativas” dos grupos excluídos ou marginalizados, como os divorciados recasados, ou quem tem outras orientações sexuais. Para 98% devia haver mais participação das mulheres nos serviços religiosos, nas capelanias e paróquias.
Dos 957 participantes no inquérito, apenas 76 responderam ir “sempre” à missa, e 17 ir “sempre” à confissão. Mas, a maioria gostava de ter “mais conhecimento sobre a Bíblia” (52%) e sobre os Sacramentos (39,2%), e de participar em “grupos de vida/movimentos da Igreja” (66,6%).
Em termos de comunicação e partilha, 334 responderam que existe “pouco” apoio, acompanhamento e orientação espiritual, mas 498 reconhece que os problemas sociais fazem parte da vida e da mensagem da Igreja.
A análise às conclusões do inquérito sublinha que “há uma desilusão implícita do papel da Igreja hoje na sociedade”, e uma “apatia” na hora de batizar os filhos. “Dizem que quando crescerem eles decidem se querem ou não”, lê-se no documento. Entre as propostas para “tornar a igreja mais acolhedora” está a de “dinamizar encontros de famílias” e “criar um espaço de espiritualidade através de uma maior dedicação à solidariedade”. Defende-se, ainda, que é preciso atrair os militares às celebrações, para “descobrirem a fé” e a valorizarem, e “incentivar a participação dos mais jovens no serviço das igrejas”.
Os resultados da consulta, que encerrou a 3 de maio, foram analisados esta quarta-feira pela equipa nomeada pela Diocese das Forças Armadas e de Segurança para promover este estudo no âmbito do caminho sinodal convocado pelo Papa Francisco, e quem tem como horizonte o Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, previsto para outubro de 2023.