12 mai, 2022 - 11:35 • Henrique Cunha
A pandemia “agravou as situações potencialmente perigosas”, diz o vereador da Habitação da Câmara Municipal do Porto, que se mostra preocupado com os "problemas relacionados com a saúde mental".
Pedro Baganha garante que "há mais idosos em risco", sendo este um "processo inexorável, na medida em que todos nós estamos a ficar mais idosos e menos jovens”.
A perceção do autarca baseia-se no estudo resultante da parceria entre a Câmara e o Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP) que desde 2018 têm acompanhado inquilinos dos bairros sociais com mais de 70 anos e casais com mais de 75.
Do trabalho de terreno da primeira e segunda fase foi possível identificar 323 casos considerados de intervenção prioritária por isolamento social severo.
De acordo com o projeto apresentado na quarta-feira, "existe evidência estatística para considerar que a atual pandemia está a ter um impacto significativo nos recursos sociais e no número de intervenções sociais das pessoas mais velhas que vivem em habitação social na cidade do Porto".
Em declarações à Renascença, o vereador da Habitação garante que a “autarquia não pode ignorar os números” e assegura que o combate ao isolamento “é uma prioridade” para a Câmara do Porto.
Ainda assim, Pedro Baganha sublinha que, “a partir do momento em que são sinalizados, [os casos de isolamento] são encaminhados para os serviços sociais, já não da Câmara Municipal apenas, mas também da Segurança Social, porque não podemos esquecer que a responsabilidade pela ação social é do Estado central” – “esta é uma preocupação que tem de ser partilhada por todo o Estado e por toda a sociedade”, sublinha.
Respostas Sociais à Pandemia
Provedor da Santa Casa da Miserircórdia do Porto r(...)
O autarca admite a necessidade de apostar “em novas tipologias de habitação”, porque “as tipologias clássicas já não resolvem os problemas quando temos um conjunto significativo dos nossos inquilinos sem retaguarda, sem família, que fazem cair as pessoas numa espiral depressiva”.
Uma das possíveis soluções é a reinvenção das próprias tipologias habitacionais, por exemplo, “tipologias em que as pessoas partilham espaço mesmo dentro da casa pode ser uma possibilidade de mitigação ou de resolução destes problemas”.
Nesta perspetiva, a autarquia tem neste momento oito habitações partilhadas por inquilinos mais velhos e está a “equacionar criar uma outra residência partilhada, na freguesia de Ramalde”.
“Porto Importa-se” é o nome do projeto da Câmara do Porto que visa combater a solidão dos inquilinos dos bairros sociais e que vai entrar na terceira edição.
Isaura Azevedo, de 74 anos, continua a viver sozinha na sua casa no bairro do Cerco, mas garante que o encontro com a equipa do projeto “Porto importa-se” revelou-se fundamental na sua vida. Esta inquilina revela que sempre teve muito medo de envelhecer e garante que quando “estas meninas apareceram foi (como se visse) o céu”.
Viúva há 20 anos e aposentada da sua atividade de feirante, Isaura mostra-se emocionada com a presença constante dos voluntários e responsáveis pelo programa.
O encontro com Isaura deu-se em plena pandemia. Andreia Moreira, assistente social e técnica do “Porto Importa-se”, diz que o trabalho realizado “não acaba com o isolamento, mas dá alguma segurança”.
E a pandemia, além de fazer aumentar o isolamento dos mais velhos, teve um impacto muito significativo nos recursos sociais dos idosos. O estudo apresentado revela que, na segunda edição do projeto, em particular em 2020, o número de casos considerados de intervenção prioritária foi consideravelmente superior – na primeira fase, registaram-se 17% de casos e o número subiu para 49% na segunda edição do projeto.
O “Porto Importa-se” é um projeto de intervenção técnica, criado pela Domus Social em 2017, destinado aos idosos com mais de 70 anos e casais com mais de 75, residentes em habitação pública municipal e sem mais elementos no agregado familiar e que se encontram em situação de isolamento.
A terceira vai decorrer entre 2022 e 2024.