05 jun, 2022 - 10:30 • Henrique Cunha
Américo Monteiro, coordenador da Liga Operária Católica (LOC) diz que em Portugal se continua a privilegiar a “viabilidade económica, a viabilidade das empresas” e que “raramente se pensa na dignidade do trabalho”.
“Dignificar o trabalho, cuidar da casa comum” é o tema do Congresso que este movimento de trabalhadores católicos vai realizar nos dias 10 e 11 de junho, na Mealhada, num contexto ainda de uma pandemia que “muito ajudou a deteriorar o processo de dignificação do trabalho”.
“O desafio foi cuidar das pessoas, na sua situação de risco, de risco de vida, mas, no fundo, continua-se sem reconhecer alguns direitos, ao nível dos vencimentos, das condições de trabalho, pois continuou-se sem se dar resposta a muitas das profissões que são essénias para a humanidade”, sublinha.
Numa fase ainda precoce, está a discussão sobre a semana de quatro dias de trabalho. Américo Monteiro diz que “este é um debate ainda muito inicial” e sublinha que, por agora apenas pode dar a sua opinião pessoal.
Para o responsável da LOC, não há dúvida de que “para os trabalhadores, o seu bem-estar e de suas famílias e por mais disponibilidade para o lazer e o repouso, a semana de quatro dias seria um benefício”.
Contudo, defende, “neste debate devemos ter em conta a proteção dos salários, a igualdade de direitos, a melhor repartição da riqueza produzida”.
"Num país como Portugal, onde o tempo médio de trabalho está ainda nas 40 horas, é importante uma redução progressiva deste tempo”, mas “sem perda de quaisquer direitos para os trabalhadores”.
Nestas declarações à Renascença, o coordenador da LOC afirma que seria "muito importante" a publicação de uma nova encíclica sobre a questão do trabalho no momento atual.
Américo Monteiro sustenta que “o espírito que o Papa Francisco tem demonstrado e com que aborda todos os problemas, aliado à sua sensibilidade" poderia tornar a publicação de uma encíclica sobre a questão do trabalho nos tempos de hoje um acontecimento "espetacular da parte da Igreja", que, certamente, se aproximaria da realidade do mundo do trabalho, "cativando muita gente desse mundo do trabalho para as questões da Igreja e da religião”.
Atualmente, a LOC conta com cerca de meio milhar de militantes. Américo Monteiro acredita na possibilidade do relançamento deste movimento, porque “esta atenção ao mundo do trabalho na sociedade e neste movimento de igreja é fundamental para os dias de hoje”.
“Reconhecemos que, num país como o nosso, precisávamos de muita mais gente empenhada nestas dinâmicas e com espírito jovem e com dinâmica para chegar a muito mais gente”, remata.