07 jun, 2022 - 19:30 • Liliana Carona
O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) considera estar em causa a identidade e autonomia das IPSS.
“Era preciso uma entidade neutral que fosse árbitro entre conflitos de interesses”, defende Lino Maia. O responsável de 74 anos lembra que “é o Estado a contratar com as instituições, a financiar e depois a julgar, a intervir, a condenar”.
“Está em causa a identidade e autonomia. São instituições particulares que devem ter o direito de inovar, de experimentar, mas, entretanto, têm de se cingir àquilo que foi contratado e não pode tratar de maneira diferente o que é diferente; e as situações e os utentes não são iguais. O estatuto das instituições particulares de solidariedade social está absolutamente desajustado, com incoerências e é necessário rever”, alerta o padre Lino Maia, que lidera a CNIS desde 2016.
Nesta terça-feira, decorre no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu, o VI Congresso da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade sob o tema “As IPSS nas Políticas Sociais”.
Lino Maia recorda a obrigação de proteção social da parte do Estado, nomeadamente na área dos cuidados paliativos.
padre lino maia
O presidente da Confederação Nacional das Institui(...)
“Praticamente, o que o Estado transfere para as instituições é depois devolvido ao Estado em TSU [Taxa Social Única] e numa série de situações. Isto é um problema grave, porque obriga as instituições a desviar-se do seu público-alvo, que são os mais desfavorecidos, dado que sem recursos, não podem prestar serviços. É importante que o Estado assuma as suas obrigações, seja responsável pela proteção social, que é uma das suas obrigações”, defende.
E insiste. “O Estado, aquilo que tem feito é: contrata, em princípio financia, mas só em 38% dos custos das instituições – e até menos por causa das transferências – e depois lava as mãos, está tudo feito”.
“É importante que se aposte nos cuidados paliativos e que o Estado assuma esta sua obrigação. Um Estado que só se preocupa com soberania nacional, que também é importante, é um Estado que não cumpre as suas obrigações. Há boas respostas nos cuidados paliativos, mas insuficientes. É importante que se aposte nestes cuidados, como nos cuidados continuados, que estão muito mal pagos”, reforça.
O padre Lino Maia diz que as instituições precisam(...)
“Não há grandes respostas na área dos cuidados paliativos”, lamenta por fim Lino Maia, sem deixar de enaltecer o papel das IPSS. “Portugal pode orgulhar-se das respostas sociais que brotam da comunidade. As instituições estão antes do Estado”.
Na quarta-feira (dia 8), a manhã será dedicada ao painel de partilha: a cooperação em ação – práticas inovadoras (Painel III), no qual será possível confirmar com a participação dos atores sociais, a concretização do triângulo apresentado no primeiro dia.
Na parte da tarde, o debate incidirá sobre os Desafios e Constrangimentos na Relação das IPSS com o Estado (Painel IV), sendo efetuada uma reflexão sobre os temas transversais a todo o Congresso e que marcam a realidade do setor social e solidário.