24 jun, 2022 - 12:22 • Ana Carrilho
“Reinventamo-nos, adaptamo-nos, nestes dez anos já passámos por uma pandemia que nos obrigou a realizar um evento digital (em 2021) e que correu bem, mas não é a mesma coisa. O Turismo precisa que as pessoas se encontrem, usufruam dos produtos turísticos, que vivam experiências, que saibam o que têm para vender e como podem compor um produto turístico, diz Purificação Reis, presidente da ACISO, em entrevista à Renascença no âmbito da 10.ª edição dos Workshops Internacionais de Turismo Religioso.
A iniciativa decorre até esta sexta-feira em Fátima e prossegue na Guarda, abordando a herança judaica. Está incluído um pós-tour pelo país (e especialmente na Região Centro) até dia 28.
“Estávamos ansiosos por voltar ao modo presencial”, afirma Purificação Reis, com visível satisfação pela presença de meio milhar de participantes, vindos de 47 países. Neles se incluem 122 "hosted buyers" (operadores que organizam tours), 123 "suplliers" (fornecedores de diferentes serviços na área do turismo) e 41 expositores, nacionais e estrangeiros. O país convidado foi a Jordânia.
Um evento que ao longo dos anos foi ganhando relevância e se tem afirmado como referência a nível mundial para o setor do turismo religioso. O grande trunfo dos Workshops são os encontros B2B, em que as diferentes empresas mostram os seus produtos e estabelecem contactos para negócios futuros. E como a Renascença pôde constatar, para muitos operadores turísticos internacionais, participar neste evento já faz parte das respetivas agendas anuais.
Na sessão de abertura foi também frisado o papel que o turismo religioso tem para a valorização cultural, patrimonial e económica dos territórios e o facto de ter deixado de ser visto com alguma condescendência, nomeadamente pelos poderes públicos. Uma importância conseguida também muito pelo trabalho dos Workshops Internacionais de Turismo Religioso.
Para Purificação Reis é igualmente relevante que o evento marque o início da operação turística, embora ainda não na sua plenitude. Há cada vez mais peregrinos/turistas a chegar a Fátima, mas ainda faltam os de alguns mercados, nomeadamente o asiático, que vem preferencialmente no inverno e com um impacto muito significativo para reduzir a sazonalidade (no caso de Fátima, a partir de outubro até abril, fora dos meses que assinalam as aparições de Nossa Senhora). Por exemplo, em 2019, só o mercado da Coreia do Sul gerou cerca de 100 mil noites na hotelaria de Fátima.
No entanto, a líder da ACISO aponta as boas expetativas dos empresários do setor esperando que depois da pandemia, os efeitos da guerra, da subida de inflação e redução do poder de compra de muitas famílias não venham impactar a retoma que já se nota e que se deseja ainda para 2022 e especialmente para 2023. “Queremos que estes Workshops sejam um acelerador da retoma turística pós-pandemia”.
A realização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa no próximo ano é outro motivo para as boas expetativas. “É um evento muito especial, dirigido à juventude e que não fica apenas em Lisboa, alarga-se a todo o país e especialmente a Fátima. Se contarmos com a visita da Papa Francisco, será novamente um grande momento para Fátima”.
Os Workshops Internacionais de Turismo Religioso nasceram em Fátima, o símbolo máximo da religião católica em Portugal, mas houve desde sempre com um espírito ecuménico. “Tal como a própria mensagem do Santuário de Fátima, de congregação, de receber pessoas qualquer credo”, refere Purificação Reis.
Foi nesse sentido que surgiu o alargamento à herança judaica, incluindo a Guarda na organização. E todos os anos participam operadores turísticos de países em que o catolicismo é minoritário, mas querem dar a conhecer a sua cultura e a sua religião. Um exemplo dessa abrangência é a presença de uma delegação da Jordânia, país árabe com um vasto património cultural e que aposta cada vez mais no turismo religioso.
A ACISO decidiu celebrar os dez anos de Workshops de uma forma especial: ofereceu ao Santuário de Fátima uma imagem de Nossa Senhora com um manto diferente e especial, explica Purificação Reis à Renascença.
A imagem tem um manto feito com pombas em burel (um produto tradicional da Região Centro). As pombas -símbolo da paz – têm bordadas as bandeiras dos 61 países que participaram até agora nos Workshops Internacionais de Turismo Religioso.
“Nestes tempos conturbados e com uma guerra na Europa, este manto simboliza a esperança num mundo melhor, onde reine a paz e o amor”.
10º Workshops Internacionais de Turismo Religioso
Ainda assim, o Reitor do Santuário de Fátima, Carl(...)