04 jul, 2022 - 10:33 • Olímpia Mairos
Francisco desmente os rumores de que planeia renunciar num futuro próximo, numa entrevista exclusiva ao vaticanista da agência Reuters.
"Quando chegar o tempo em que vir que já não sou capaz...farei isso", respondeu o Papa a propósito da possibilidade de resignar ao cargo por razões de saúde, sublinhado que esse foi um grande exemplo deixado pelo agora Papa Emérito - Bento XVI fez essa escolha em 2013.
Questionado sobre quando pensava que isso pudesse acontecer, disse: “Não sabemos. Deus o dirá”.
Uma conjunção de eventos previstos para o final de agosto, incluindo reuniões com cardeais do mundo para discutir uma nova constituição do Vaticano, uma cerimónia para empossar novos cardeais e uma visita à cidade italiana de L'Aquila, têm gerado alguns rumores sobre uma possível renúncia. Mas, nesta entrevista, Francisco coloca um ponto final a esses rumores: “Todas essas coincidências fizeram alguns pensarem que a mesma 'liturgia' ocorreria. Mas nunca passou pela minha cabeça. No momento, não”.
Nas mesmas declarações, voltou a negar rumores de que teria cancro ao dizer que os seus médicos “não disseram nada sobre isso” e, pela primeira vez, deu detalhes da condição do joelho que o impediu de desempenhar algumas funções.
"A mim, não mo disseram! Os médicos explicaram-me que não tenho cancro e ponto final", disse, acrescentando que "são mexericos da corte. Ainda existe o espírito da corte no Vaticano. Repare que o Vaticano é a última corte europeia de monarquia absoluta. Ainda não deixou de ser uma corte".
Sobre os problemas no joelho, Francisco contou que sofreu “uma pequena fratura" quando cometeu um erro enquanto um ligamento estava inflamado. "Estou bem, estou melhorando lentamente", acrescentou, explicando que a fratura está cicatrizando, auxiliada por laser e magnetoterapia.
O Papa, que usou um bastão para entrar na sala de receção da Casa Santa Marta, confidenciou que a decisão de adiar a viagem à África lhe causou "muito sofrimento", especialmente porque queria promover a paz tanto na República Democrática do Congo quanto no Sudão do Sul
Francisco disse ainda que vai visitar o Canadá este mês e espera poder ir a Moscovo e Kiev o mais brevemente possível.
“Eu gostava muito de ir [à Ucrânia] e queria ir a Moscovo primeiro”, disse o Papa.
Francisco observou que houve contatos entre o secretário de Estado Pietro Parolin e o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, sobre uma possível viagem a Moscovo, mas que os sinais iniciais não eram bons. No entanto, o Santo Padre admite que algo pode ter mudado.
“Trocámos mensagens sobre isto porque pensei que, se o Presidente russo me desse alguma abertura, eu iria até lá servir a causa da paz. E agora é possível, depois de voltar do Canadá, é possível que eu consiga ir à Ucrânia. A primeira coisa é ir à Rússia para tentar ajudar, mas eu gostaria de ir à duas capitais”.
Numa conversa de 90 minutos, na tarde de sábado, realizada em italiano, sem a presença de auxiliares, o pontífice de 85 anos repetiu também a sua condenação do aborto, na sequência da decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos no mês passado.
Esta entrevista vai ser disponibilizada, por temas, esta segunda e terça-feira.