10 jul, 2022 - 18:55 • Henrique Cunha
Na homília da Eucaristia em que foram ordenados seis novos padres, este domingo, D. Manuel Linda lembrou que “a proposta da salvação é universal. É para todos” e advertiu que “a fuga à dor e ao sentimento dos outros é fuga de nós mesmo e de Deus”. “E em cristianismo jamais pode haver divisão entre o corpo da fé e o corpo da vida”, prosseguiu.
Tomando como ponto de partida a reflexão à volta da parábola do Bom Samaritano, que hoje se escutou no evangelho, o Bispo afirmou que “passar ao lado dos outros sem lhes estender a mão, mesmo que invocando um qualquer superior primado, ou uma outra qualquer urgência, é sempre praticar o arremedo da religião, mas nunca servir o Senhor presente nos irmãos”.
“Nunca passeis à margem do povo que vos vai ser confiado. Nunca troqueis a solicitude da proximidade por ideias abstratas e efémeras, ainda que tocadas pelos ventos das modas culturais do momento”, disse. “Nunca viajeis por imaginários doentios de fuga à realidade e ao compromisso com aqueles em função dos quais recebeis o sacramento da ordem”, prosseguiu.
D. Manuel Linda pediu depois aos novos sacerdotes: “nunca sigais por caminhos alternativos apenas para que o vosso percurso não se cruze com os irmãos a quem sois enviados”, pois isso “é o pior”.
O bispo entende que “o segredo da beleza e do encanto do ministério ordenado passa por esta proximidade sentimental, pela familiaridade existencial ao povo de Deus”, e diz que “para isto há descobertas a fazer e atitudes a tomar. Umas de cariz iminentemente negativo outras pela positividade”. E nesta perspetiva o prelado aconselhou: “Não cultueis ao luxo e à ostentação pois estes são os vícios que o povo menos suporta. Não cultiveis a sombra da fuga, pois se o padre não está com os seus estes também não podem estar com o seu pároco. Não faleis do alto da vossa importância pois o bom senso diz-nos que isto fratura, e o princípio da sinodalidade reconhece que todos somos fiéis em cristo e igualmente responsáveis pela sua Igreja”.
“No sentido positivo”, o bispo também pediu: “Estai no mundo mesmo sem ser do mundo, no sentido de estar presente aquelas realidades por onde se movem as pessoas e a sociedade”. “Sede líderes e guias espirituais que incentivam e congregam, pois, este mundo que tende a satisfazer a sua ânsia de salvação e plenitude na técnica cada vez mais refinada é preciso lembrar-lhe que as realidades fininhas jamais conseguirão satisfazer o anelo da vida infinita”, prosseguiu.
D. Manuel Linda pediu para que se ame muito “uma Igreja que não possui estradas próprias, mas caminha pelas mesmas vias calcorreadas pelos outros; os homens e mulheres para lhes falar, penetrar no coração de todos e ajudar a todos e nesta Babel atual exprimir-se na única linguagem possível, a do amor”.
O bispo quer “uma Igreja que, como Mãe amorosa se aproxima, escuta, vê e se deixa ferir pelos sofrimentos daqueles que encontram nas estradas da vida”.
Por fim, D. Manuel Linda alertou para as dificuldades que os novos padres vão encontrar, porque “as condições do clero atuais são outras e bem mais difíceis que as do passado, pois os sacerdotes antigos não tinham que pastorear ao mesmo tempo cinco ou seis paroquias e com uma multiplicidade de atividades desconhecidas naquela altura”. “A comparação entre o hoje dos párocos e o passado dos seus colegas é meramente aproximativa”, concluiu.
Na eucaristia desta tarde, o bispo do Porto ordenou seis novos sacerdotes; quatro oriundos do Seminário Maior do Porto e dois do Seminário Redemptoris Mater.