26 jul, 2022 - 18:15 • Ângela Roque, Aura Miguel (no Canadá)
No dia em que a Igreja celebra a festa dos avós de Jesus (São Joaquim e Santa Ana), as palavras do Papa foram sobretudo dedicadas aos idosos, com um pedido claro para que cada cristão saiba honrar as raízes de onde descende.
“Não somos indivíduos isolados, não somos ilhas; ninguém vem ao mundo desligado dos outros”, começou por lembrar o Papa na homília da missa que celebrou no ‘Commonwealth Stadium’, em Edmonton, e durante a qual lançou várias interrogações.
“Somos filhos e netos que sabemos guardar a riqueza recebida? Recordamos os bons ensinamentos herdados? Falamos com os nossos idosos, reservamos tempo para os escutar?”, perguntou o Papa, para quem é preciso "rezar por eles e em união com eles, dedicar tempo a recordá-los, conservar o seu legado. Na bruma do esquecimento que invade os nossos tempos vertiginosos, é preciso cuidar das raízes. É assim que cresce a árvore, e é assim que se constrói o futuro", sublinhou.
Para Francisco é fundamental respeitar o legado de quem nos precedeu. "Os nossos avós e os nossos idosos desejaram ver um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário, e lutaram para nos dar um futuro. Agora, a nós, cabe não os dececionar, assumir a tradição que recebemos, porque a tradição é a fé viva dos nossos mortos. Mas, por favor, não a convertamos em tradicionalismo, que é a fé morta dos vivos”. E acrescentou que dessa atitude certa também depende o futuro.
“Os avós de quem descendemos, os idosos que sonharam, esperaram e se sacrificaram por nós, lançam-nos uma pergunta fundamental: que sociedade queremos construir? Que herança queremos deixar? Uma fé viva ou uma fé tipo ‘água de rosas'? Uma sociedade fundada no lucro individual ou na fraternidade? Um mundo em paz ou em guerra? Uma natureza destruída ou um lugar ainda acolhedor?", desafiou.
“Que rasto estou a deixar no meu caminho? O que estou a fazer e a deixar a quem me segue? Que estou a dar de mim? Muitas vezes avalia-se a vida pelo dinheiro que se ganha, pela carreira que se tem, pelo sucesso e consideração que se recebem dos outros. Mas, estes não são critérios geradores. A pergunta é: estou a gerar vida? Estou a introduzir na história um amor novo e renovado?”, perguntou ainda o Papa.
E acrescentou: “Que estou a fazer pela minha Igreja, pela minha cidade e pela sociedade? Irmãos, é fácil criticar, mas o Senhor não nos quer apenas críticos do sistema, fechados e retrógrados, mas artesãos de uma história nova, tecelões da esperança, construtores do futuro e artífices de paz”.
Para o Papa, é fundamental “construir um futuro melhor”, onde “não se descartem os idosos por já não serem necessários; um futuro que não julgue as pessoas só pelo que produzem; um futuro que não seja indiferente com quem, já em idade avançada, precisa de mais tempo, escuta e atenção; um futuro onde, para ninguém, se repita a história de violência e marginalização sofrida pelos nossos irmãos e irmãs indígenas”.
Neste segundo dia da visita ao Canadá o Papa irá ainda ao Lago Sant’Ana, onde desde o século XIX inúmeros peregrinos se deslocam neste dia para mergulhar nas águas que os próprios indígenas consideram sagradas. Aí presidirá à celebração da Palavra e à bênção das águas e dos fiéis presentes.