28 jul, 2022 - 23:15 • Ângela Roque , Aura Miguel (no Canadá)
O Papa Francisco presidiu esta quinta-feira à Oração de Vésperas na Catedral de Notre Dame, no Québec. A celebração reuniu bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, seminaristas e outros membros da Igreja no Canadá, a quem o Santo Padre pediu que não sejam meros “assalariados religiosos ou funcionários do sagrado”, e vivam a fé com alegria.
“Que os pastores não se sintam superiores aos irmãos e irmãs do Povo de Deus; que os agentes pastorais não vejam o seu serviço como poder. Começa-se daqui”, sublinhou o Papa, lembrando que só se pode dar bom testemunho “quando é a vida que fala”, e que não é a fé que está em crise, mas o modo como é anunciada.
“Como vai a nossa alegria? E a minha alegria? A nossa Igreja expressa a alegria do Evangelho? Nas nossas comunidades existe uma fé que atrai pela alegria que comunica?”, perguntou, admitindo que o atual contexto cultural é desfavorável à fé.
Francisco está no Canadá para se encontrar com os (...)
“Não podemos deixar de refletir sobre o que, na realidade do nosso tempo, ameaça a alegria da fé com o risco de a obscurecer, pondo seriamente em crise a experiência cristã. Pensamos imediatamente na secularização, que há muito transformou o estilo de vida das mulheres e homens de hoje, deixando Deus quase no último lugar. Parece que Ele desapareceu do horizonte”, disse o Papa, pedindo que não se ceda ao negativismo, como se a Igreja sentisse “nostalgia” dos tempos em teve mais poder.
“O problema da secularização, para nós cristãos, não deve ser o da menor relevância social da Igreja ou da perda de riquezas materiais e privilégios”, sublinhou Francisco, para quem não é a fé que está em crise, mas “certas formas e modos com que a anunciamos”.
O Papa deixou, por isso, três desafios : “fazer Jesus conhecido” - o que exige “criatividade pastoral para chegar às pessoas”; ser “credível” através do testemunho que se dá - porque só se anuncia o Evangelho de modo eficaz “quando é a vida que fala”; e o terceiro, a fraternidade – porque “a Igreja será testemunha tanto mais credível do Evangelho, quanto mais os seus membros viverem em comunhão”.
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O chefe índio Tony Alexis, da Nação Nakota Sioux, (...)
"Perguntemo-nos: como está a fraternidade entre nós? Os Bispos entre si e os bispos com os padres? Os padres entre si e os padres com o povo de Deus? Somos irmãos ou rivais, divididos em fações? E como são as nossas relações com quem não é ‘dos nossos’, com quem não crê, ou tem tradições e usos diferentes?", interrogou ainda o Papa.
Nesta homília, Francisco voltou a renovar o pedido de perdão pelos erros cometidos no passado contra os povos indígenas. “Que a comunidade cristã nunca mais se deixe contaminar pela ideia de que existe uma cultura superior a outras, e que é legítimo usar meios de coação em relação aos outros”, afirmou. E não esqueceu a questão dos abusos, que obrigou a Igreja no Canadá a começar um “percurso novo”, depois de ter sido “ferida e transtornada pelo mal perpetrado por alguns dos seus filhos”.
“Penso em particular nos abusos sexuais cometidos contra menores e pessoas vulneráveis, crimes que exigem ações fortes e uma luta irreversível. Quero, juntamente convosco, voltar a pedir perdão a todas as vítimas. A dor e a vergonha que sentimos devem tornar-se ocasião de conversão: que nunca mais aconteçam!”, sublinhou ainda o Papa.