11 ago, 2022 - 12:21 • Ricardo Vieira, com agências
As autoridades da Nicarágua mantém o bispo D. Rolando José Álvarez retido no paço episcopal, desde 4 de agosto. A detenção provocou uma onda de solidariedade para com o bispo de Matagalpa e a Igreja daquele país.
Em mais um sinal de agravamento das relações entre o Governo de Manágua e a Igreja Católica, o bispo de Matagalpa encontra-se em situação de prisão domiciliária, com polícia à porta, juntamente com seis padres e seis leigos.
Um vídeo divulgado na última semana mostra D. Rolando José Álvarez junto à saída do edifício, com vários elementos da Polícia Nacional a barrar-lhe a saída, com escudos e bastões.
“Queria sair para ir à Catedral celebrar a missa, mas as autoridades superiores não me dão autorização. Estamos aqui seis sacerdotes e seis leigos, encerrados na cúria episcopal, e aqui vamos permanecer respeitando a polícia, os nossos irmãos que têm família e que são nossos amigos”, afirmou D. Rolando, que depois abençoou os agentes das forças de segurança.
Os bispos da Nicarágua já agradeceram as manifestações de fraternidade e solidariedade vindas de outros países neste momento difícil que atravessa a Igreja na Nicarágua, "em particular pelo nosso irmão D, Rolando Álvarez".
"A nossa Igreja por natureza 'proclama o Evangelho da paz'", ao mesmo tempo que pede ao Senhor "que renove a graça do seu Espírito Santo para nos manter firmes na Esperança e fiéis à missão" dele recebida, refere uma carta assinada pelo presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, o bispo de Jinotenga, D. Carlos Enrique Herrera.
No início do mês, o Governo da Nicarágua tinha ordenado o fecho de estações de rádio católicas ligadas ao bispo que tem criticado o Presidente do país, Daniel Ortega, e que já realizou uma greve de fome em protesto contra o assédio das autoridades.
Segundo a Fundação “Ajuda a Igreja que Sofre” (AIS), a diocese de Matagalpa é acusada de “organizar grupos violentos”, e de “realizar atos de ódio contra a população, causando um clima de ansiedade e de desordem, alterando a paz e harmonia da comunidade, com o objetivo de desestabilizar a Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais”.
Além da perseguição a D. Rolando José Álvarez, as autoridades da Nicarágua expulsaram do país nos últimos meses as Missionárias da Caridade, congregação fundada por Santa Teresa de Calcutá, e o Núncio Apostólico, D. Waldemar Stanislaw Sommertag.
"A prisão domiciliária de D. Rolando e todos os outros casos relacionados com a Igreja vêm reforçar os dados do relatório ‘Nicarágua: Igreja perseguida?’, de Martha Patrícia Molina Montenegro. O documento, a que a Fundação AIS teve acesso recentemente, reporta o período compreendido entre 2018 e 2022 e permite perceber que a Igreja Católica sofreu mais de 190 ataques, profanações e perseguições ao clero neste país", refere a AIS.
As relações entre a Igreja Católica e o Governo Ortega deterioraram-se desde 2018, altura em que se verificaram protestos contínuos contra o Presidente Daniel Ortega e uma repressão subsequente por parte do Governo.
Ortega, por exemplo, classificou de "terroristas" os bispos nicaraguenses que atuaram como mediadores de um diálogo nacional que buscava uma solução pacífica para a crise que o país vive desde abril de 2018.
Além disso, os descreveu os bispos como “golpistas”, tendo-os acusado de serem cúmplices de forças internas e grupos internacionais que, em sua opinião, atuam na Nicarágua para o derrubar.
A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou após as polémicas eleições gerais de 7 de novembro do ano passado, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo com a esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais opositores na prisão.