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Primeiro cardeal de Timor. "É o momento de a Igreja timorense contribuir para o mundo"

27 ago, 2022 - 16:15 • Aura Miguel em Roma

D. Virgílio do Carmo da Silva perdeu o sono quando soube que o Papa Francisco o tinha nomeado cardeal. À Renascença, diz que a vivacidade da fé no seu país pode ser um contributo para o mundo.

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Quando soube da notícia da sua nomeação, teve uma insónia. Aos 55 anos, o arcebispo de Dili D. Virgílio do Carmo da Silva recebeu, neste sábado das mãos do Papa, o barrete e o anel cardinalícios.

Em entrevista à Renascença, o primeiro cardeal da igreja timorense reconhece que a vivacidade da fé no seu país pode ser um contributo para o mundo.

Como recebeu a notícia?

Foi uma surpresa porque o anúncio foi ao meio-dia em Roma, mas lá em Timor eram sete e meia da noite. O representante do Vaticano, telefonou-me da nunciatura e disse: "Parabéns. Então não sabe que o Santo Padre o nomeou para cardeal?" A minha reacção foi: "O quê?" (risos) Fiquei mesmo sem palavras. Dali a cinco, dez minutos, a notícia da nomeação torna-se viral, entre os media e amigos, começo a receber mensagens e felicitações. Não posso descrever o sentimento que tive naquela noite...

Não dormiu nada?

Sim, não consegui dormir e assim continuei durante alguns dias (risos). Agora, neste momento, vejo que devo cumprir a vontade de Deus e procuro obedecer.

Em que é que a sua experiência de Igreja, na realidade onde é pastor, poderá ajudar a Igreja universal?

Isso é uma pergunta que também a mim, muitas vezes, preocupa. Em que é que eu vou contribuir para o bem da Igreja universal? Desde o início, sempre me disponibilizei como sacerdote, e agora como bispo e cardeal, para tudo o que a Igreja me pedir. Estou pronto para colaborar. E penso que este é também o momento para representar aquela gente e povo de Timor, com aquela fé pela Igreja e, assim, contribuir com a riqueza da fé dos que tanto sofreram. É uma Igreja com 500 anos de história, de evangelização, com quase 500 anos de missão, uma Igreja que sofreu muito durante mais de 24 anos, durante a guerra da independência. É uma Igreja que acompanhou o povo, não só durante o sofrimento, mas também para se reconciliarem com os adversários. Creio que são estas coisas que nos pedem para contribuir, é com esta nossa identidade que podemos contribuir para a Igreja universal.

O senhor Cardeal diz que Timor é uma igreja viva e com grande riqueza. Como é que olha para este lado do mundo mais desgastado, secularizado e quase indiferente em relação a Deus?

A nossa fé, esta vivacidade da Igreja timorense, recebemo-la dos missionários que vieram desta parte do mundo, de Itália, de Portugal, de Espanha... Foi esta parte do mundo que nos levou a evangelização. O crescimento e a qualidade da fé timorense, foram recebidos pelos nossos missionários. Não o podemos negar. Agora, é com esse sentimento que nos interrogamos sobre o que deve agora fazer a Igreja de Timor. Não é só receber, agora é já o momento para a Igreja timorense contribuir para o mundo. Isto não é uma novidade, porque já temos congregações religiosas que estão a enviar os missionários de Timor para o mundo...

Para aqueles que vos evangelizaram... agora é ao contrário!

Exatamente, é uma missão. E também há muitos timorenses jovens a emigrar para esta parte do mundo, por causa do emprego. Por isso, também temos a obrigação de dar assistência a este drama do êxodo destes jovens que saem do país em busca de trabalho. Devemos acompanhá-los na vida espiritual, no crescimento da fé e também como homens e mulheres.

Há uma faceta que poderá ser também de ajuda nestes tempos, que é a vossa experiência de relação com o Islão...

Posso dizer que a ilha de Timor está dividida ao meio com a Indonésia, mas nós podemos gozar de boas relações com o nosso vizinho. Sendo Timor-leste um país de maioria católica, gozamos desde o início de uma boa relação de tolerância e solidariedade com todos.

Como cardeal, o que mais o preocupa e o que mais deseja, no seu coração?

A preocupação é única. Desde o início, quando recebi sobre os ombros esta missão de bispo, sempre tive o sonho de consolidar a fé na Igreja de Timor. Porque não é só a quantidade, interessa-me, sobretudo, a qualidade, ou seja, como posso consolidar a formação do clero, dos seminaristas e de todos os cristãos para permanecerem firmes na fé, para assim darem um bom testemunho pra o mundo. E também rezo para que Deus dê força para os meus padres e todo o povo, para cumprirmos a nossa parte e Deus nos converter e transformar por dentro, não é?

Comentários
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  • António Justo
    28 ago, 2022 Branca 12:01
    Parabéns a Timor, parabéns a D. Virgílio do Carmo da Silva!

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