06 set, 2022 - 16:33 • Ângela Roque
Foi em 2019 que o Papa Francisco lançou o desafio aos economistas e empresários até aos 35 anos: era urgente encontrar uma economia mais justa e fraterna, que não deixasse “ninguém para trás”. Nascia assim o projeto "A Economia de Francisco". O primeiro encontro presencial entre os jovens e o Papa vai decorrer entre 22 e 24 de setembro, em Assis, já com trabalho feito para ser partilhado.
Na apresentação do programa, esta terça-feira, no Vaticano, Domenico Sorrentino, arcebispo de Assis e presidente do Comité organizador do encontro, começou por lembrar o muito que se conseguiu fazer nestes três anos, apesar dos constrangimentos da pandemia.
“Houve uma série de iniciativas em streaming, em todos os continentes. Criámos uma escola de verão e uma academia, o Papa falou com os participantes à distância e os jovens estiveram sempre apaixonadamente envolvidos”, sublinhou aquele responsável, para quem este é um caminho seguro que só poderá dar bons frutos.
“A Economia de Francisco não é uma espécie de ‘brain storming’ juvenil sem direção”. De Assis, lembrou, espera-se que saia um compromisso mais sólido. “O que se espera é que os jovens que vão firmar um Pacto com o Papa, se empenhem em abrir um diálogo com a economia real, o mundo empreendedor, as instituições bancárias, os gigantes da energia e os centros financeiros. Muitos dirão que é David contra Golias. Mas, como ensina a Bíblia e recorda o Papa, ‘a Deus nada é impossível’”, afirmou ainda.
O arcebispo de Assis admitiu que o atual contexto de guerra e crise energética - com todas as consequências que está a ter ao nível da inflação, do fornecimento de gás e no apoio alimentar mundial – aumentou os desafios para quem está a repensar um novo modelo económico. E lembrou os alertas do Papa.
“O Papa Francisco tem dito, com muita força, que uma ‘economia da paz’ não se constrói com a indústria das armas e da guerra. Constrói-se reconvertendo-a numa indústria de defesa não violenta, de convivência pacífica. E espero que estes jovens dêem um grande impulso nessa direção”, defendeu D. Domenico Sorrentino, que deposita toda a esperança na nova geração.
“O problema da energia, que está a obrigar o mundo a redistribuir-se numa nova geopolítica, com novos blocos de poder… será que esta grande rede de jovens pensadores não pode afirmar-se como ‘bloco da paz’, de encontro? - o sonho do encontro dos ‘grandes da terra’ com a profecia de São Francisco de Assis e com a paixão destes jovens. É um processo, uma orientação, em que temos de continuar a trabalhar. Quando teremos uma resposta concreta? Só Deus sabe”. Mas, de Assis, reafirmou, sairão propostas concretas.
O encontro ‘Papa Francisco e os jovens de todo o mundo, por uma economia do amanhã’ vai decorrer de 22 a 24 de setembro. O Papa irá a Assis apenas no último dia. Estão previstos vários trabalhos de grupo, networking e conferências com a participação de vários economistas.
"Inclusão" é uma das palavras-chave no trabalho a desenvolver nas 12 "aldeias temáticas". Dando continuidade às atividades realizadas online durante a pandemia, serão abordadas as principais questões da atualidade, como a paz, a crise climática, as desigualdades, o trabalho, o desafio energético, o empreendedorismo e as finanças.
Este vai ser o primeiro encontro internacional presencial da ‘Economia de Francisco’, e tem mil inscritos de todos os continentes. A maioria é da Europa e da América Central e do Sul, mas a Ásia e a América do Norte também estão representadas.
A idade média dos participantes é de 28 anos. Muitos fazem parte do mundo dos negócios (30%), e são responsáveis por startups ou projetos em desenvolvimento. 30% são estudantes ou pertencem a movimentos sociais e organizações não governamentais. 40% são empresários ou gestores de projetos ligados à economia justa, sustentável e inclusiva, e já com boas práticas para partilhar.
A sustentabilidade é uma preocupação desta edição da ‘Economia de Francisco’, que quer “marcar a diferença” em relação a outros eventos internacionais, quer ao nível dos materiais usados, quer do lixo produzido.