13 set, 2022 - 14:55 • Aura Miguel (no Cazaquistão) , Inês Rocha
O Papa Francisco chegou ao Cazaquistão “para amplificar o clamor de tantos que imploram a paz, caminho de desenvolvimento essencial para o nosso mundo globalizado”.
Perante as autoridades daquele país, Francisco lembrou que a viagem que o Papa João Paulo II fez ao país logo a seguir aos “trágicos atentados de 2001”.
“Por minha vez, chego cá no curso da louca e trágica guerra originada pela invasão da Ucrânia, enquanto outros confrontos e ameaças de conflito colocam em risco os nossos tempos”.
"É hora de evitar a acentuação de rivalidades e o reforço de blocos contrapostos”, afirmou o Papa.
O Cazaquistão caracteriza-se pelo seu contexto multi-étnico e multicultural, com mais de 100 etnias e 40 confissões religiosas. A maioria religiosa é muçulmana (cerca de 70%) e os cristãos são uma minoria, com 25% de ortodoxos e apenas 1% de católicos.
Perante os membros do Governo, do corpo diplomático, das autoridades religiosas e civis, o Papa abordou o assunto citando um provérbio local: “a fonte do sucesso é a unidade”.
“Se isto é válido em todo o lado, é-o de modo particular aqui: os cerca de cento e cinquenta grupos étnicos e as mais de oitenta línguas presentes no país, com histórias, tradições culturais e religiosas variegadas, compõem uma sinfonia extraordinária e fazem do Cazaquistão um laboratório multiétnico, multicultural e multirreligioso único, revelando a sua peculiar vocação que é a de ser país do encontro”.
Neste contexto, Francisco sublinhou a importância de uma “laicidade sã, que reconheça o papel precioso e insubstituível da religião e contraste o extremismo que a corrói”. Esta laicidade, para o Papa, “representa uma condição essencial para o équo tratamento de todo o cidadão, além de favorecer o sentimento de pertença ao país por parte de todas as suas componentes étnicas, linguísticas, culturais e religiosas”.
“Com efeito as religiões, enquanto desempenham o papel insubstituível de buscar e testemunhar o Absoluto, precisam da liberdade de se expressar. E assim a liberdade religiosa constitui o álveo melhor para a convivência civil”, continuou o Papa.
Francisco lembrou ainda a importância da democracia como um “serviço concreto ao povo”.
“Por toda a parte é preciso que a democracia e a modernização não sejam relegadas a proclamações, mas confluam num serviço concreto ao povo: uma boa política feita de escuta do povo e de resposta às suas legítimas carências, de envolvimento constante da sociedade civil e das organizações não-governamentais e humanitárias, de particular atenção aos trabalhadores, jovens e às faixas mais débeis; e feita também de medidas (no mundo, todos os países precisam delas!) para combater a corrupção”, afirmou.
Para Francisco, “este estilo político realmente democrático é a resposta mais eficaz a possíveis extremismos, personalismos e populismos, que ameaçam a estabilidade e o bem-estar dos povos".
O Papa sublinhou também a necessidade de "uma certa segurança económica, que foi invocada, ao início do ano, aqui em regiões onde, apesar dos consideráveis recursos energéticos, várias dificuldades se fazem sentir".
"É um desafio que diz respeito não só ao Cazaquistão, mas a todo o mundo, cujo desenvolvimento integral se vê refém duma generalizada injustiça, aparecendo distribuídos de forma desigual os recursos. E é missão do Estado, mas também do setor privado, tratar todas as componentes da população com justiça e igualdade de direitos e deveres, e promover o desenvolvimento económico, não com base no lucro de poucos, mas na dignidade de cada trabalhador”.
O Papa Francisco começa esta terça-feira uma viagem de três dias a Nur-sultan, capital do Cazaquistão, para participar no Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais. Saiba o que leva o Papa Francisco ao Cazaquistão.