24 set, 2022 - 12:19 • Aura Miguel
O Papa pediu este sábado aos mais de mil jovens reunidos em Assis para serem “artesãos e construtores de uma casa comum que se está a arruinar". O projeto “Economia de Francisco”, inspirado no Santo de Assis, foi desencadeado pelo Santo Padre em 2019, dirigindo-se especialmente aos jovens estudantes, professores, economistas e gestores para repensarem uma “economia diferente”, mais humana e inclusiva. Desde então a iniciativa gerou vários encontros que culminaram neste sábado com a intervenção do Papa.
“Uma nova economia, inspirada por Francisco de Assis, hoje pode e deve ser uma economia amiga da terra e uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata numa economia da vida, em todas as suas dimensões”, disse o Santo Padre. “Não basta a maquilhagem, o modelo de desenvolvimento deve ser questionado. A situação é tal que não podemos apenas esperar pela próxima cimeira internacional: a terra está a arder hoje, e é hoje que devemos mudar, a todos os níveis.”
"Ver assim tantos mortos numa só zona é uma coisa (...)
Francisco defendeu o princípio ético universal, segundo o qual os danos devem ser reparados: “se crescemos abusando do planeta e da atmosfera, hoje também devemos aprender a fazer sacrifícios em estilos de vida ainda insustentáveis. Caso contrário, serão os nossos filhos e netos a pagar a conta, uma conta muito alta e muito injusta. É necessária uma mudança rápida e decisiva”, disse Francisco. “Conto convosco! Não nos deixem tranquilos, dêem-nos o exemplo!”
À Renascença, Rita Sacramento Monteiro, responsável pelo Hub português da Economia de Francisco, acredita que nestes tempos de crise, não só económica, o Papa deixou-lhes um desafio enorme, para o qual a geração mais nova estará preparada .
"O Papa diz que para a construção de uma nova economia é preciso cabeça, coração, e mãos. É preciso usar mãos porque corremos o risco de estar a pensar e e fazer e não a sentir", disse.
Frequentemente interrompido por aplausos, o Papa afirmou que “uma Economia de Francisco não se pode limitar a trabalhar para ou com os pobres. Enquanto o nosso sistema produzir resíduos e operarmos de acordo com esse sistema, seremos cúmplices de uma economia que mata”.
Neste contexto, o Papa lançou uma pergunta decisiva: “estamos a fazer o suficiente para mudar esta economia ou contentamo-nos em pintar uma parede mudando de cor, sem mudar a estrutura da casa? Talvez a resposta não esteja no que podemos fazer, mas em como conseguimos abrir novos caminhos para que os próprios pobres possam tornar-se protagonistas da mudança.“
No final do seu discurso, o Papa deixou três indicações do caminho. A primeira, “olhar o mundo com os olhos dos mais pobres”, tal como o movimento franciscano foi capaz de o fazer na Idade Média criando os primeiros bancos solidários; a segunda, “não se esqueçam do trabalho, não se esqueçam dos trabalhadores” e de “criar empregos, bons empregos para todos”. A terceira indicação passa por transformar as boas ideias em “ações concretas e empenhadas no quotidiano”.
Enviado especial do Vaticano informou-o sobre rela(...)
Na conclusão do encontro foi lida e assinada uma Declaração, em que os participantes se comprometem “a gastar a vida para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma economia do Evangelho, uma economia de paz e não de guerra, uma economia que contraria a proliferação de armas, especialmente as mais destrutivas, uma economia que cuida da criação e não a destrói”.
Entre outros compromissos, defendem ainda “uma economia ao serviço da pessoa, da família e da vida, uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência.” Simbolicamente, esta Declaração foi assinada pelo Papa e pela mais jovem participante do encontro, uma ativista ambiental tailandesa.