13 out, 2022 - 10:12 • Ana Catarina André , Ângela Roque
O processo de beatificação da Irmã Lúcia entrou esta quinta-feira numa nova fase: foi entregue no Dicastério para a Causa dos Santos, em Roma, a ‘Positio’, um conjunto de documentos que resumem a biografia da vidente de Fátima, os testemunhos sobre a sua vida, o seu diário e outros textos revelantes sobre as suas virtudes heróicas. A informação foi divulgada pelo Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima e anunciada aos peregrinos no final das celebrações deste 13 de outubro.
Em declarações à Renascença, a partir de Roma, a irmã Ângela Coelho, Vice-Postuladora para a Causa da Beatificação e Canonização da irmã Lúcia, não escondeu a sua satisfação. “Estou muito feliz! Primeiro porque terminou um processo longo de reflexão, escrita e redação. Estamos a falar de mais de mil e 900 páginas. Ver chegar ao fim uma fase destas e um trabalho destes é muito gratificante, e termos conseguido entregar neste 13 de outubro, dia da última aparição de Nossa Senhora e do Milagre do Sol, é uma coincidência que se conseguiu, muito bonita”, sublinhou.
A documentação agora entregue resume “os dados sobre a vida da Lúcia e a prática das virtudes que ela exerceu em grau heróico, e também o sumário das testemunhas que depuseram no seu processo na fase diocesana”, que encerrou há cinco anos. “Este é um documento da fase romana, são dois volumes da ‘Positio’ que vão ser agora apresentados aos teólogos”, explicou aquela responsável.
Neste momento a irmã Lúcia é Serva de Deus, mas até ser declarada Venerável há etapas a cumprir. “Quando os teólogos lerem estes dois volumes, o seu parecer vai ao conjunto dos bispos e cardeais que colaboram com o Dicastério para a Causa dos Santos e fazem um voto que apresentam ao Santo Padre. Quando o fizerem, já está evidenciada a heroicidade da prática das virtudes da irmã Lúcia, e o Santo Padre assinará o decreto da heroicidade das virtudes, e nesse momento a Lúcia passa a ser Venerável”.
O processo ainda pode demorar. “É imprevisível. Alguns meses sem dúvida serão”, admite a Vice-Postuladora, que “gostaria muito que fosse para o próximo ano, pela visita do Santo Padre a Portugal. Mas, este é apenas um desejo do meu coração. Não sei se será possível ou não. Vamos ver!”.
“Do ponto de vista humano, da investigação, do estudo, do amadurecimento da reflexão sobre a figura de Lúcia de Jesus e da sua espiritualidade, o trabalho está concluído”, afirma Ângela Coelho.
A beatificação, ou a canonização, são etapas seguintes, mas “dependem de um milagre", e isso já é “da parte de Deus”. Conta que têm recebido “relatos de graças” e que “há um ou outro que estamos a estudar, mas não posso dizer que tenham as características necessárias para aprovação de um milagre". Nesta nova fase espera "que haja um renascer deste interesse de oração pela intercessão da irmã Lúcia”.
A fase diocesana do processo de beatificação e canonização da irmã Lúcia encerrou em fevereiro de 2017, e implicou a análise de milhares de cartas e textos, além da auscultação de 61 testemunhas, resultando em mais de 15 páginas de documentação que seguiram para a Congregação das Causas dos Santos (Santa Sé).
A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, faleceu a 13 de fevereiro de 2005, aos 97 anos de idade, depois várias décadas vividas em clausura no Carmelo de Coimbra.
Este processo teve início em 2008, três anos após a sua morte, tendo na altura o agora Papa emérito Bento XVI dispensado o período de espera de cinco anos determinado pelo Direito Canónico.
Francisco e Jacinta Marto, os outros dois videntes de Fátima, foram canonizados pelo Papa Francisco, na Cova da Iria, a 13 de maio de 2017.