17 out, 2022 - 19:33 • Teresa Paula Costa com Ecclesia
O economista do Banco de Portugal Nuno Alves disse, esta segunda-feira em Fátima, que um verdadeiro "tsunami" se aproxima. O especialista falava no 34º encontro da pastoral social que começou em Fátima com o tema "A pandemia, a guerra e os pobres".
Na conferência de abertura intitulada "Linhas de pobreza e exclusão em Portugal", Nuno Alves disse que os perigos que enfrentamos no futuro são a subida da inflação, o aumento das taxas de juro e a desaceleração económica.
Um verdadeiro "tsunami", classificou o especialista docente da Universidade Católica Portuguesa.
O responsável começou por evocar a mensagem do presidente da República Portuguesa para o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza: “Quase dois milhões de portugueses são pobres e que esta é uma realidade que persiste na nossa sociedade, para a qual temos de olhar com vontade e ambição”.
A “chave” para aferir do impacto da crise, no futuro, será a evolução da taxa de desemprego, indicou o especialista.
Elicídio Bilé, o presidente da Cáritas diocesana de Portalegre-Castelo Branco disse, em entrevista à Renascença, que "a situação social de Portugal já de si era débil e mesmo com a aparência de que as coisas estavam a melhorar, já existia esta situação complexa das famílias".
O dirigente revela que "começaram a surgir, e antes não surgiam tanto, pessoas que tinham emprego e que não recorriam aos apoios".
Mas, para o dirigente, pior ainda são as consequências da situação em termos psicológicos.
"É a incerteza no futuro, é o não dar esperança de vida às pessoas", explica Elicídio Bilé, para quem "ganhar a esperança de quem a perdeu é complicado". No entanto, "fazemos isso o melhor que podemos e sabemos com os critérios que temos, mas a verdade é que não é fácil", salientou o presidente da Cáritas diocesana de Portalegre-Castelo Branco, que considerou esse "o maior problema de todos".
E neste campo, cada cidadão tem um papel importante a desempenhar.
"Eu, como vizinho de um vizinho que tem um problema, devo estar disponível para também tentar ajudá-lo nessa mesma promoção em relação a um fator negativo que ele possa ter na sua vida", considera o presidente da Cáritas diocesana de Portalegre-Castelo Branco, que defende que "as instituições do setor social têm de ter essa preocupação e apetrechar-se o melhor possível, seja com voluntários, seja com capacidade económica para também poder ajudar nesse aspeto".
Elicídio Bilé defende ainda que o Estado deve dar mais apoio às instituições que prestam este tipo de apoio no terreno.
No encontro da pastoral social, o bispo da diocese de Leiria-Fátima alertou para o impacto da pandemia e da guerra, que “aprofundou o fosso entre quem tem e quem não tem”.
“As suas consequências estão a cair dramaticamente, sobre o mundo todo”, precisou.
No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, D. José Ornelas declarou que, “num mundo que se quer próspero, não pode haver lugar para bolsas de miséria”.
O presidente da CEP apelou a uma “nova perceção” da necessidade de uma organização coletiva para fazer o bem, indo além das respostas espontâneas a emergências.
“Nós precisamos de trabalhar mais em rede”, sustentou.
O 34º encontro da pastoral social decorre até à próxima quarta-feira em Fátima, com a participação de mais de uma centena de pessoas.