20 out, 2022 - 12:42 • Ângela Roque
As cheias na Nigéria já causaram centenas de mortos e pelo menos 1 milhão e meio de desalojados, mas o balanço final é ainda imprevisível, porque há muitos desaparecidos. Em entrevista à Renascença Simon Ayogu, missionário nigeriano a viver em Portugal, diz que “a situação é dramática. Estamos a falar de um desastre nacional, e tudo leva a crer que é o pior que já tivemos”. Mesmo o número de vítimas será muito superior ao divulgado até agora.
“Ouvimos falar de 600 mortos, mas quando estes são os números oficiais, é porque há muitos mais”, garante. A sua família está a salvo, mas conhece quem não esteja. “Ainda hoje falei com alguém conhecido que está à espera que lhe digam se o seu pai apareceu vivo ou morto".
As cheias são habituais na região, mas não nesta altura do ano, explica ainda o padre Simon. “Todos os anos temos inundações, mas que eu saiba nunca tivemos uma duração tão longa. Estamos a falar de um país que tem 36 estados e mais de 30 estão afetados”.
“De junho até outubro são os meses mais fortes. A grande surpresa é estarmos a ter esta experiência mesmo no final da época das chuvas”. E como as previsões indicam que vai continuar a chover, “o fim não está à vista”, sublinha.
Para este missionário é óbvio que o país não estava preparado para inundações tão grandes. E não tem dúvidas de que resultam das alterações climáticas, que têm mesmo de ser levadas a sério. “Quando acontece alguma coisa num ponto do globo será sempre um alerta, porque o que acontece aqui hoje pode ser um aviso, ou pré-aviso, do que poderá acontecer amanhã noutro sítio. Por isso é que eu apelo a uma maior solidariedade humana".
Com parte do país alagado, alojar quem ficou sem nada tem sido um desafio para as autoridades nigerianas. A ajuda internacional, para já, ainda não foi acionada, mas a carência alimentar vai agravar-se, e muito. “Isto tem as suas consequências imediatas. Nos próximos dias e semanas a fome, que já é uma realidade, vai aumentar”. E poderá arrastar-se “ao longo de um ano ou dois, se não houver ajuda de fora”.
“Que eu saiba a ajuda ainda está ao nível interno. O Governo federal está a fazer o seu melhor. Como chegar às pessoas afetadas continua a ser um prolema. No entanto conseguiram providenciar o alojamento para muita gente onde havia previsão que a enchente ia passar”, conta o sacerdote dos missionários espiritanos, que confia também no apoio da Igreja. “Não estou informado se essa ajuda está a ser dada, mas normalmente nestas situações a Igreja chega sempre mais depressa, porque já está lá, no local, e chega antes da ajuda nacional ou internacional".
Em Portugal há vários anos, o padre Simon está atualmente ao serviço da arquidiocese de Braga, onde é pároco em Nogueira e Lomar. Nestas declarações à Renascença conta que tem sentido muito apoio, e sabe que os portugueses estão sempre prontos para ajudar. "Os paroquianos e os amigos ligam para informar que estão a par, e saber se há forma de ajudar. Ainda não foi necessário, mas sei que se tiver que ser, o povo está disposto a colaborar. Disso não tenho dúvidas".