01 nov, 2022 - 08:16 • Henrique Cunha
O Dia de Todos os Santos, que se celebra esta terça-feira, 1 de novembro, existe para nos lembrar que “todos somos chamados à santidade”, afirma o liturgista João Peixoto. Em declarações à Renascença, o sacerdote explica as origens desta solenidade e também do Dia dos Fiéis Defuntos, que se assinala na quarta-feira, dia 2.
O padre da Diocese do Porto sublinha a relevância da data para a Igreja Católica, lembrando que “a celebração de Todos os Santos é uma solenidade, o grau supremo da festividade na nossa Igreja Católica, no nosso rito romano”.
“Temos as simples memórias, temos as festas e temos no topo as solenidades. E para a Igreja em Portugal e em muitos países de tradição cristã é dia Santo de preceito. Quer dizer, os cristãos são santificados pela participação na eucaristia e dão glória a Deus pela participação na eucaristia. É um dia como dizemos de ir à missa”, esclarece o sacerdote, que integra o Secretariado Diocesano de Liturgia da Diocese do Porto.
De acordo com o liturgista, a Igreja do Oriente começou esta celebração no século IV. No Ocidente a tradição terá tido início três séculos mais tarde.
O padre João Peixoto afirma que “a Igreja há já muitos séculos que promove celebrações conjuntas de Todos os Santos”, mas sublinha que “pioneiras foram as Igrejas do Oriente já no século IV”, quando “no contexto do tempo pascal, ou na semana imediatamente a seguir os cristãos do Oriente celebravam conjuntamente todos os santos, com destaque para os mártires que são o modelo mais sublime da nossa participação da Páscoa do Senhor”.
“No Ocidente foi nos inícios do século VII com a dedicação do Panteão - lugar de culto pagão a todas as divindades do Olimpo - como um lugar de culto cristão, como uma Igreja que a celebração ganhou dimensão”, explica.
O sacerdote diz que “Panteão foi dedicado à Santíssima Virgem e a todos os mártires, em 13 de maio de 610” e que, “a partir daí, essa data começou a ser comemorada anualmente”.
Portanto, “o dia 13 de maio era o Dia de Todos os Santos Mártires e dia da Santíssima Virgem, porque era o aniversário da dedicação dessa Igreja”.
Depois as diversas igrejas locais começaram a celebrar em datas diferentes, celebrações com o mesmo conteúdo alargando a todos os santos e inclusive aos santos não canonizados”, prossegue.
A data de 1 de novembro foi adotada primeiro na Inglaterra no século VIII e depois passou ao império de Carlos Magno, talvez por influência do “ministro Alcuíno” (Alcuíno de Iorque foi um monge, poeta, matemático e professor inglês) que era de origem britânica. E é nessa altura que a data se torna “obrigatória no reino dos francos e depois alargou-se mesmo a toda a Igreja, embora posteriormente e celebra os santos canonizados e não canonizados, e é por isso a festa da felicidade; a festa das bem-aventuranças que é o Evangelho do dia”.
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, "todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade".
A celebração de Fiéis Defuntos “é uma celebração de conteúdo diferente e até fica bem na sequência”, adianta o padre João Peixoto, que ainda assim lamenta o facto de “infelizmente na nossa prática” haver “uma sobreposição pelo facto de o dia 2 de novembro não ser feriado, ao contrário do dia 1, o que leva as pessoas a aproveitar para ir aos cemitérios de véspera”.
O liturgista sublinha a ideia de que a Igreja nunca omite “a comemoração dos fiéis que já partiram deste mundo marcados com o sinal da fé e que agora dormem o sono da paz”, como diz a oração do cânone romano, porque “não há nenhuma celebração da eucaristia em que eles não sejam recordados; ‘todos os fiéis defuntos, todos os que nos precederam desde o princípio do mundo’”, como diz uma outra oração.
De acordo com o antigo professor de Liturgia da Faculdade de Teologia da Católica Porto, “parece que a ideia de consagrar um dia à oração pelos defuntos se desenvolveu em ambiente monástico e foi o abade de Clone, Santo Odilão, quem já em finais do século X determinou que todos os mosteiros da sua ordem fizessem a comemoração de todos os Fiéis Defuntos no dia a seguir ao da Solenidade de Todos os Santos”.
O sacerdote adianta que “o costume se generalizou” e que “Roma o oficializou no século XIV”.