04 nov, 2022 - 15:40 • Rosário Silva
A Diocese de Beja celebra no domingo, dia 6 de novembro, o centenário do nascimento de D. Manuel Falcão, que foi bispo nesse território alentejano entre 1980 e 1999.
Uma eucaristia, às 15h00, na Sé de Beja, e uma sessão solene, às 17h00, no salão do Centro Pastoral do Seminário da cidade, são as iniciativas programadas, além da inauguração de uma exposição com objetos pessoais de D. Manuel Falcão e apresentação de um filme sobre a vida e obra deste prelado.
Primeiro como coadjutor entre 1975 e 1980, depois como bispo diocesano até 1999, D. Manuel Falcão fica para a história da diocese de Beja como reformador ou não fosse ele um bispo do pós-Concilio Vaticano II.
“Foi uma figura muito importante, porque foi o homem que veio trazer a renovação no pós-Vaticano II nesta diocese. Renovou as estruturas diocesanas e deu um grande contributo para o desenvolvimento da diocese até do ponto de vista prática cristã que, em relação ao que aconteceu na altura, duplicou”, refere, à Renascença, o padre José Maria Afonso Coelho, assistente espiritual do hospital de Beja e amigo pessoal do bispo.
Numa diocese a fervilhar por causa da revolução de 1974, o bispo soube como ninguém estar à altura dos desafios.
“Na véspera do chamado “Verão Quente”, houve muitas tensões, inclusive, alguns padres foram incomodados com saneamentos, práticas que se faziam na altura do PREC, mas que ele soube lidar com muita inteligência e muita serenidade”, acrescenta o sacerdote.
José Maria Afonso Coelho não tem dúvidas de que “a personalidade de D. Manuel foi uma graça para a diocese”, pela forma como “ele soube gerir os conflitos, sempre com diálogo e discernimento, tendo evitado muitas situações que poderiam ter sido desagradáveis”.
Este domingo, Beja celebra o centenário de D. Manuel Falcão, que deixou uma extensa obra durante os 24 anos em que permaneceu na diocese.
Entre muitas outras iniciativas, “criou o Fundo Comum do Clero, criou a residência para sacerdotes idosos, reformulou as estruturas diocesanas, criou o dia diocesano, os programas pastorais, os planos trienais e quinquenais, dinamizou a pastoral missionária, fonte de evangelização e de oração, tendo dinamizado a vida da diocese”, destaca o padre José Maria.
É apenas uma pequena parte do amplo legado que deixou nas mais de duas décadas em que esteve no Baixo Alentejo. Homem de profunda fé, corajoso, culto e generoso, D. Manuel Falcão é homenageado pela diocese que ajudou a reformar em tempos de dificuldades.
D. Manuel Franco da Costa de Oliveira Falcão, nasceu a 10 de novembro de 1922, em Lisboa. Os pais, católicos convictos, transmitiram a fé aos filhos por testemunho de vida e educação, durante a infância e adolescência.
Nos anos da Guerra (1939-1945) frequentou o curso de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico (IST), onde obteve a carta de curso. Nesse período, foi vicentino, militante da Juventude Universitária Católica (JUC) e cofundador do Centro de Ação Social Universitária.
A meio do penúltimo ano do curso do IST, ofereceu-se ao cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa, como candidato ao sacerdócio, tendo entrado para o Seminário dos Olivais em outubro de 1947, tendo sido ordenado sacerdote a 29 de junho de 1951.
Ficou no Seminário dos Olivais como professor e prefeito. Ensinou, Ciências Naturais, História da Igreja, Sociologia, Pastoral, Acão Católica, entre outras matérias.
Com o passar dos anos foi alargando a sua ação pastoral, destacando-se, entre outras atividades, a criação e lançamento do Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, a criação do Secretariado de Informação Religiosa e publicação do Boletim de Informação Pastoral, do qual foi diretor.
A nível de formação, entre outras participações, procedeu ao primeiro recenseamento da prática dominical no Patriarcado (1955) e fez, em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa e o Estado, o estudo do redimensionamento paroquial da Cidade (1959).
Nos primeiros anos do pós-Concílio Vaticano II, acompanhou de perto os trabalhos conciliares, como padre jornalista, tendo-se deslocado a Roma, para aí entrevistar vários participantes. Com o seu espírito reformista iniciou os primeiros trabalhos daquela que é hoje a Agência Ecclesia, como órgão de comunicação da Igreja portuguesa.
Por Bula de Paulo VI, datada de 6 de dezembro de 1966, foi eleito bispo titular de Telepte e auxiliar do Cardeal-Patriarca. Seis anos depois, após a Revolução de Abril, foi nomeado coadjutor, com direito de sucessão do arcebispo-bispo de Beja, D. Manuel dos Santos Rocha. A transferência para Beja efetivou-se em tempos particularmente difíceis no Alentejo, nas vésperas do “Verão Quente de 1975”.
À resignação do arcebispo-bispo D. Manuel dos Santos Rocha, por limite de idade, a 8 de setembro de 1980, D. Manuel Falcão passou a bispo residencial. A entrada solene na Sé de Beja fez-se no dia 1 de outubro desse ano.
Entre as preocupações que tornou prioritárias, contam-se a situação do clero, as vocações, a vida consagrada, a formação dos agentes da pastoral, a economia da diocese, as suas estruturas, tendo ainda sido responsável pela criação do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.
Já perto dos 75 anos, depois de ter sugerido à Santa Sé a nomeação de um bispo coadjutor, formalizou, a 2 de fevereiro de 1997, o pedido de resignação, que lhe foi concedida a 25 de janeiro de 1999, ficando como administrador apostólico da diocese até à tomada de posse do seu sucessor D. António Vitalino Fernandes Dantas.
D. Manuel Falcão decidiu continuar a viver em Beja, na Casa Episcopal, onde veio a falecer a dia 21 de fevereiro de 2012.