25 nov, 2022 - 08:40 • Teresa Paula Costa
O grupo missionário Ondjoyetu existe desde 1999 e começou a sua missão na diocese do Sumbe, com o projeto ASA - Ação Solidária com Angola.
Na altura, o objetivo do padre Vítor Mira, que liderava o projeto, era ajudar as populações que, fugindo da guerra, se tinham fixado na zona montanhosa do Gungo, na província angolana de Cuaza Sul, e melhorar as suas condições de vida.
Pelo meio, aconteceu a geminação da diocese de Leiria-Fátima com a diocese local do Sumbe, e outras perspetivas se abriram.
Passo a passo, com a ajuda de voluntários, a vida da população foi mudando.
Emanuela Dias, um dos elementos do grupo, considera que “os projetos que desenvolvemos em Angola tiveram um impacto brutal na melhoria das condições de vida daquelas populações”.
Em entrevista à Renascença, deu o exemplo do “BTC – Bloco de Terra Comprimida”. Trata-se de “uma máquina que faz a compressão da areia, da terra, muito rica em argila, e do cimento”, que permite a construção de casas muito mais resistentes do que as habituais casas em adobe (palha e terra), típicas da zona.
A inovação, naquela região, veio “melhorar muito as condições de habitabilidade das pessoas, pois, quando chove, e em Angola chove muito, deixa de haver casas”, porque a chuva destrói-as, deixando as pessoas sem teto.
Emanuela Dias lembra também a importância da construção de uma moagem. “Em Angola, as mulheres esmagam o milho num utensílio que é o pilão, batendo o milho até transformar o grão em farinha”, continuou. Algo que as angolanas têm de levar horas a fazer e que implica danos à saúde.
“Haver uma moagem permite às mães melhorar em muito a sua qualidade de vida e terem menos lesões nos membros superiores”, concretizou Emanuela Dias.
Além destes projetos, foi dada formação sobre cuidados de saúde e higiene, agricultura e alimentação, língua portuguesa e líderes comunitários.
Em vista está também a construção de um sistema de preparação e distribuição de água potável e ainda a montagem de painéis fotovoltaicos para produção de energia.
Naquela região angolana, tudo falta. Menos a humildade e alegria da população. Foi o que surpreendeu João Antunes. Há mais de seis anos, esteve a fazer missão no Gungo e a experiência mudou a sua vida.
Em declarações à Renascença, disse que “primeiro começamos a ser sensíveis a tudo”. Por isso “eu não posso ver, nem em minha casa, que sobre comida e se estrague”.
Daí que na sua mente a prioridade seja “poupar” e “preocupar-me com os outros”.
Também Carlos Santos se sente diferente desde que começou a colaborar com o grupo missionário Ondjoyetu.
A experiência de missão transformou tanto a sua vida que anseia voltar. “Eu vou fazer tudo para lá voltar novamente”, disse, convicto, à Renascença.
Igual sentimento tem Teresa Silva, que ajudou as crianças do Gungo a falar e escrever melhor o português.
“Nós temos que voltar!”, exclamou, entusiasmada. “Temos previsto voltar para a inauguração da nossa igreja e já avisei a família”.
Teresa Silva ajudou na construção da igreja do Ukende e em tudo o resto que foi necessário.
Neste momento, encontram-se na diocese do Sumbe a voluntária Sílvia Antunes e o padre David Nogueira, a desenvolver um projeto de formação de agentes da saúde.
Para angariar fundos para continuar a missão, o grupo realiza frequentemente ações de solidariedade.
Também em 2017 foi publicado um livro de testemunhos de missionários que está à venda no seminário de Leiria.
Com receita a reverter, em parte, para a missão, o fotógrafo Filipe Silva lançou o livro “34 mil rostos do Gungo”.
Precisamente mais de 35 mil pessoas é o universo de seres humanos que ao longo destes anos têm visto as suas vidas melhorarem graças ao grupo Ondjoyetu.