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Papa sobre a Rússia: “Para condenar a guerra, não é preciso dizer o nome e o apelido”

28 nov, 2022 - 13:12 • Aura Miguel

A guerra na Ucrânia, a polarização nos Estados Unidos, ordenação das mulheres e as relações com a China são alguns destaques da mais recente entrevista do Papa, desta vez, à revista dos jesuítas, “America Magazine”.

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Um católico não pode pensar “ou-ou” e reduzir tudo a uma polarização. A essência do ser católico é “e-e”, diz o Papa sobre as atuais divergências na sociedade e na política norte-americanas.

“O católico une o bom e o menos bom, porque o povo de Deus é um só.” Nesta entrevista hoje divulgada, Francisco considera que a polarização leva a “uma mentalidade que divide e privilegia uns e deixa de lado outros” e lembra que “o católico harmoniza sempre as diferenças. Santos e pecadores, os dois juntos.”

Sobre alguns contrastes entre afirmações feitas por bispos e o que diz a Conferencia Episcopal, Francisco sublinha que “quem é o pastor é o bispo e não a Conferência Episcopal”. E que o objetivo desta é “unir os bispos, ajudar a trabalhar juntos, a discutir temas e fazer planos de pastoral. Mas cada bispo é chamado a estar com o seu povo” Por isso, “não misturemos as coisas”, acrescentou. “Jesus não criou a conferencia episcopal, Jesus criou os bispos e cada bispo é pastor do seu povo”.

Por que nunca condena a Rússia?

“Quando falo da Ucrânia, falo de um povo martirizado e falo de crueldade porque tenho muitas informações sobre a crueldade das tropas que estão lá chegam.

Certamente o invasor é o Estado russo. Isso é muito claro”, responde Francisco. “Às vezes tento não especificar para não ofender e prefiro condenar em geral, embora se saiba quem estou a condenar. Não é preciso dizer o nome e o apelido”.

O Papa reafirmou a sua disponibilidade para negociar a paz e revelou que, após a sua inédita visita à embaixada russa, o ministro Lavrov lhe respondeu “com uma bela carta, dando a entender que, no momento, não era necessário a sua mediação”.

Francisco recordou que já falou três vezes ao telefone com o presidente Zelensky e que tem recebido listas de prisioneiros, civis ou militares que envia ao governo russo, “com respostas sempre muito positivas”. E confirmou o seu desejo em visitar a estas duas cidades, mas “se eu viajar, vou a Moscou e a Kiev, vou às duas e não a uma só”.

O Papa reafirmou que a postura da Santa Sé é procurar a paz e o entendimento. “A diplomacia da Santa Sé está a movimentar-se nesta direção e, por isso, sempre disposta a uma mediação”, acrescentou.

A questão dos abusos e as mulheres na Igreja

“Nem que fosse um só caso, é sempre monstruoso”, refere o Santo Padre a propósito do número de casos de abuso na Igreja. “O abuso de menores é das coisas mais monstruosas. Dantes, nas famílias e em algumas instituições, o costume era encobrir. Mas a Igreja tomou outra opção: não encobrir. O grande a tomar esta decisão foi Bento XVI.”

Consciente das feridas profundas causadas pelos abusos, Francisco afirmou que “a Igreja carrega sobre si o seu próprio pecado e segue em frente, confiando na misericórdia de Deus.”

Interrogado sobre pressões, nos Estados Unidos, para o acesso das mulheres aos ministérios na Igreja católica, o Papa responde: “É um problema teológico. Creio que amputamos o ser da Igreja se consideramos apenas a via dos ministérios. A Igreja é mais do que um ministério, é o todo o povo de Deus”.

E como a Igreja é mulher, é esposa, “a dignidade da mulher deve espelhar-se nesta linha”. Francisco acrescenta ainda um terceiro caminho (além do ministerial e do eclesial), onde a mulher também deve marcar presença, quase sempre com maior aptidão do que os homens: o caminho administrativo, “que não é uma coisa teológica, mas da vida normal”.

Paciência de chinês

“Com a China, optei pelo caminho do diálogo. É lento, tem seus fracassos, tem seus acertos, mas não consigo encontrar outro caminho”, responde o Papa sobre as tentativas de entendimento em curso com as autoridades de Pequim.

“O diálogo é o caminho da melhor diplomacia”, acrescenta. Mas quero sublinhar isto: o povo chinês é um povo de muita sabedoria e merece meu respeito e admiração, tiro-lhe o meu chapéu.” Francisco recorda aos entrevistadores que há lá muito cristãos, por isso, “temos de cuidar deles para serem bons chineses e cristãos. O diálogo abre sempre portas, sempre”, conclui.

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