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“Somos transparentes, não ocultamos nada”, garante Superior-Geral dos Jesuitas

08 dez, 2022 - 01:08 • Aura Miguel

De passagem por Portugal para conhecer a realidade da Companhia de Jesus no nosso país, o padre Arturo Sosa aceitou comentar o caso do padre Marko Rupnik, jesuíta esloveno e artista plástico, acusado de abusos psicológicos e sexuais por nove religiosas, em casos que remontam à década de 1990.

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Em declarações conjuntas à Renascença e ao portal Sete Margens, o Padre Sosa começou por esclarecer que "para a Companhia de Jesus qualquer caso destes é muito doloroso”, mas isso não significa que “temos de publicar cada caso, uma vez que todos temos direito, como pessoas humanas, a uma certa privacidade”.

Ou seja, “quando o caso é público, fazemos declarações; quando não é público, não há razões para o fazer e isso não significa que o ocultamos. Nós não ocultamos absolutamente nada.”

O Superior-geral dos jesuítas revelou que, a pedido da Congregação para a Doutrina da Fé, realizaram uma investigação com pessoas competentes, que não eram da Companhia de Jesus, “precisamente para não ocultar e para o fazermos o mais transparente possível”.

E acrescentou: “Ao mesmo tempo que recebemos a petição para fazer essa investigação, tomámos imediatamente medidas, proporcionais aos factos. Proibimos o Padre Marko Rupnik de confessar, de fazer exercícios espirituais e direção espiritual, de fazer qualquer intervenção pública, como ensinar, etc. e mesmo para proferir uma conferência teria de ser autorizada pelo seu superior local. Foi o que fizemos durante todo este tempo. E, mesmo depois da notificação da Congregação da Doutrina da Fé dizendo que os factos tinham prescrito, mantivemos estas medidas, porque queremos ir mais longe sobre o assunto”.

Afinal, “ele não está preso, nenhuma das medidas afeta o seu trabalho artístico, pode movimentar-se como quiser. E mantém os seus compromissos artísticos que são bastante importantes”, esclarece o Padre Sosa. “Pode celebrar a eucaristia, mas não pode confessar, nem fazer direção espiritual.”

“Todos estes casos são dolorosos, mas o perdão é essencial”

Interrogado sobre se este e outros casos poderão afetar o entusiasmo dos jovens em aderir a iniciativas da Igreja, o responsável máximo dos jesuítas respondeu que não se atreveria a fazer um juízo geral.

“Haverá pessoas que perderam a confiança na Igreja e na Companhia de Jesus e há outras pessoas que não. Nós rezamos todos os dias, várias vezes, o Pai-Nosso, não é? E o que dizemos aí? Dizemos que queremos perdoar.”

E volta a sublinhar: “Todos estes casos são muito dolorosos. A conduta de muitos religiosos foi, em muitos casos, inaceitável, pecado. O que se faz? Procura-se a via de 'se é pecado, que seja perdoado'. Aplicam-se todas as leis civis que for preciso, aplicam-se todas as leis canónicas, mas por fim, o queremos das pessoas - vítimas e abusadores - é que se perdoem, que adiram a esse processo em que a pessoa se pode reconciliar. É o que nós, com fé, acreditamos.”

E como está o pulso dos Jesuítas em Portugal?

“Se olharmos para os jovens, percebe-se que a situação não é só branca e negra, pois há muitas coisas que se podem fazer. Aqui em Portugal, o trabalho dos Jesuítas com os jovens é realmente admirável”, disse o Padre-Geral.

“Creio que é um bom modelo para muitas províncias e oxalá continue assim, com muito entusiasmo. Também o contacto que tive com as comunidades paroquiais em várias partes e com a comunidade universitária, é um trabalho entusiasmante. Noutras partes do mundo, há coisas que não correm tão bem, mas aqui, a Província da Companhia de Jesus está a fazer um trabalho admirável.”

A grande preocupação do “Papa negro”

O Superior-geral da Companhia de Jesus (antigamente conhecido por “Papa negro”, pela dimensão mundial dos Jesuítas e pelo facto de o Padre-Geral vestir batina preta, em contraposição com a batina branca do Papa) revelou em Lisboa qual é a sua maior preocupação.

Habituado a viajar pelo mundo e conhecedor da realidade da Igreja espalhada pelos cinco continentes, o Padre Sosa disse que o que mais o preocupa “é sermos capazes de tornar viva a ideia da Igreja, que agora chamamos sinodal, que nasce no Concílio Vaticano II e que é um convite que, durante muitos anos, se tem vindo a tentar realizar e que agora recebeu um grande impulso por parte do Santo Padre e de muitas pessoas na Igreja”.

O objetivo é, pois, “não perder a oportunidade de converter a Igreja no povo de Deus que caminha juntamente com a humanidade, em busca da justiça e da paz”.

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