29 dez, 2022 - 12:07 • Olímpia Mairos
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) faz um “balanço assustador” no que toca à violência contra a Igreja em várias partes do mundo, ao longo de 2022.
Segundo a fundação pontifícia, a Nigéria destaca-se pela negativa. Durante o ano de 2022, foram assinados sete sacerdotes, quatro dos quais no desempenho das suas missões, e mais três que acabariam assassinados após terem sido vítimas também de rapto.
No México, três sacerdotes foram vítimas dos cartéis da droga, enquanto na parte oriental da República Democrática do Congo dois padres foram baleados mortalmente também durante este ano.
Em África foram assassinadas quatro religiosas, duas no Sudão do Sul, uma em Moçambique, outra na República Democrática do Congo. No Haiti uma religiosa foi morta a tiro.
O ano fica também marcado pelo elevado número de sequestros. No total, foram sequestrados 42 padres em diferentes países, dos quais 36 acabaram por ser libertados.
“Em três situações, na Nigéria, os sacerdotes acabaram por ser assassinados, e há ainda a considerar três outros padres que continuam desaparecidos, vítimas também de rapto. Dois na Nigéria, e um no Mali”, dá conta a AIS, referindo que neste país, “continua desconhecido o paradeiro do missionário alemão Hans-Joachim Lohre, parceiro dos projetos da Fundação AIS e que foi raptado em novembro”.
De acordo com a AIS, continuam também desconhecidos os paradeiros dos padres Joel Yougbaré, do Burkina Faso, e John Shekwolo, da Nigéria, ambos sequestrados em 2019.
A Nigéria é o país que regista mais raptos. Até ao momento registaram-se 28 casos ao longo de 2022, sendo que três ocorreram já em dezembro. Seguem-se os Camarões, com seis casos, cinco dos quais em setembro, e o Haiti, com cinco situações de rapto.
A Etiópia e as Filipinas, encerram a lista com um padre sequestrado por país.
As religiosas também não escaparam aos raptos. E também aqui a Nigéria surge em destaque, com sete ocorrências, seguindo-se o Burkina Faso, com um caso, tal como nos Camarões. Todas as irmãs foram libertadas.
Além das mortes e raptos, a fundação pontifícia dá conta da detenção “sob ameaça” de pelo menos 32 pessoas ligadas à Igreja.
Os casos mais recentes são de quatro sacerdotes da Igreja Católica Grega Ucraniana que se encontravam a trabalhar em regiões ocupadas pela Rússia e que foram detidos no exercício das suas atividades pastorais. Dois foram, entretanto, libertados e ‘deportados’ para território ucraniano, enquanto os outros dois permanecem detidos. Ambos enfrentam acusações de terrorismo e há, por isso, o receio de que possam estar a ser torturados na prisão.
Outro país no centro das preocupações da Fundação AIS é a Nicarágua, onde membros do clero foram detidos ao longo dos últimos meses em que se registou uma crescente hostilidade por parte das autoridades face à Igreja. Entre os detidos há, pelo menos, dois seminaristas, um diácono, um bispo e sete sacerdotes. D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa, que está em prisão domiciliária desde 19 de agosto, deverá comparecer em tribunal no próximo dia 10 de janeiro onde vai enfrentar a acusação de “atentado à integridade nacional”.
Há ainda relatos de sacerdotes que foram proibidos de deixar as suas paróquias, e de, pelo menos 10 clérigos que foram impedidos pelas autoridades de regressar ao país.
“Ao longo do corrente ano, o Governo de Daniel Ortega expulsou também o núncio apostólico, D. Waldemar Stanislaw Sommertag, forçou a saída do país das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, e provocou também o encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas”, enumera a AIS.
Na Eritreia, em África, um bispo e dois padres foram presos sem qualquer explicação das autoridades sobre a sua situação.
Já em relação à China, a fundação pontifícia diz que é difícil ou mesmo quase impossível apurar o número de padres e bispos católicos detidos.
“Os clérigos da chamada Igreja Clandestina são repetidamente detidos pelas autoridades durante algum tempo, como medida de pressão para aderirem antes à Igreja aprovada pelo Estado. Entre janeiro e maio deste ano de 2022, pelo menos dez padres desapareceram de contacto e todos eles pertencem à comunidade de Baoding, na província de Hebei”, indica a AIS.
Para além destes casos, há a registar ainda o caso de um padre que foi preso em Myanmar durante os protestos anti-regime.
A Fundação AIS apela a “todos os países envolvidos para que se empenhem em garantir a segurança e a liberdade dos padres, religiosas e outros agentes pastorais, que servem indiscriminadamente os mais necessitados e tantas vezes em situações de perigo”.
A Ajuda à Igreja que Sofre pede também a “todos os seus amigos e benfeitores, em todo o mundo, para que rezem por aqueles que permanecem em cativeiro, bem como pelas comunidades e famílias dos que perderam as suas vidas ao serviço da Igreja ao longo deste ano de 2022”.