31 dez, 2022 - 10:20 • Filipe d'Avillez
“Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor”, assim escreve São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, um dos textos bíblicos mais conhecidos.
Foi precisamente esta passagem que inspirou Bento XVI para a escrita das três encíclicas que publicou desde que foi eleito Papa, em 2005, mais a primeira do Papa Francisco, escrita em grande parte por Ratzinger.
Partindo precisamente da “maior” destas virtudes, o Papa escreveu ainda em 2005 a encíclica “Deus Caritas Est”, que significa “Deus é Amor”. Trata-se de um texto que foi recebido com agradável surpresa por um mundo que ainda tinha do Papa a imagem algo firme e inflexível de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e no qual Bento XVI vai ao fundo das três vertentes do amor humano, nomeadamente o amor erótico, o amor incondicional e a amizade, descritos com os seus termos gregos: eros, ágape e philia.
Uma parte significativa do texto teve por base escritos deixados por João Paulo II, mas pelo menos metade terá sido escrito mesmo por Bento XVI depois da sua eleição. A encíclica foi publicada com data de 25 de dezembro de 2005.
Foi preciso esperar menos de dois anos pela publicação de uma segunda encíclica: “Spe Salvi”, ou “Salvos na Esperança”, sobre o entendimento cristão de esperança. Na encíclica, o Papa argumenta que a vida dos cristãos deve ser cheia de esperança, por oposição a uma vida vazia de sentido.
Uma das chaves do argumento feito por Bento XVI é a apresentação de Jesus como alguém que mudou a história precisamente porque trouxe à humanidade a possibilidade e a esperança de um encontro com o Deus Vivo e não uma qualquer mensagem política. O Papa procura ainda saber se a esperança cristã é individualista ou não e analisa a ideia de vida eterna.
A terceira encíclica de Bento XVI foi publicada em julho de 2009 e foi aguardada de forma entusiástica porque já se sabia que abordaria questões económicas, marcando assim uma interrupção na “trilogia” especificamente sobre fé, esperança e caridade. O seu lançamento foi até adiado para que pudesse ser adaptado à realidade da crise financeira que entretanto tinha abalado o mundo.
Em “Caritas in Veritate”, em português “Caridade na Verdade”, o Papa esclarece que não cabe à Igreja oferecer soluções técnicas para os problemas económicos, mas sim apontar prioridades e valores a respeitar. Nesse sentido a encíclica aborda de novo vários pontos que constam da doutrina social da Igreja, como por exemplo a fome, a ecologia, os problemas relacionados com migrações, bioética e demografia.
Quando o Papa chocou o mundo, apresentando a sua resignação, notou-se que a tal trilogia “fé, amor e caridade” tinha ficado incompleta. Mas veio a confirmar-se mais tarde que grande parte desse documento já estava escrito, tendo sido completado pelo Papa Francisco e publicado sob o nome “Lumen Fidei”, ou “A Porta da Fé”.