31 dez, 2022 - 22:26 • Pedro Mesquita , Rosário Silva
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O eurodeputado Paulo Rangel considera que o Papa Emérito Bento XVI, que morreu este sábado, aos 95 anos, assumiu o seu pontificado como um serviço à Igreja, que terminou com a renúncia, num gesto que classifica de “revolucionário”.
Em declarações à Renascença, o vice-presidente do PSD refere “Bento XVI assume o papado como um grande serviço”, na medida em que “compreendeu que, depois de uma figura com o carisma e importância de João Paulo II, era preciso uma pessoa diferente”.
Mesmo “renitente”, aceitou servir a Igreja, embora depois com a renúncia tenha ficado patente que “o seu desejo não era propriamente ser Papa, não era uma ambição no sentido pessoal, era um serviço”.
Para Paulo Rangel, o Papa Emérito “percebeu que era preciso alguém que contrastasse com a figura de João Paulo II, até para facilitar a vida ao futuro sucessor”, o que o leva a concluir que havia “a ideia de que seria um Papa de transição”.
Por outro lado, o eurodeputado discorda dos que apelidam Bento XVI de “conservador”.
“Não concordo. Houve nos últimos anos uma grande tentativa até de fazer aqui uma espécie de cisma entre o Papa Francisco, que seria um Papa progressista, e o Papa Bento XVI, que seria um Papa conservador, mas quem ler a obra de Bento XVI não vê lá nada disso”, afirma.
“Quem ler com atenção as encíclicas, a sua obra teológica, as entrevistas que deu, vê que é um homem com uma visão de futuro, uma abertura que seria insuspeita dado o rótulo que por vezes lhe era posto”, sublinha.
Paulo Rangel considera que o seu pontificado marca até uma “transformação” do próprio Vaticano, dando como exemplo a questão dos abusos sexuais.
“O Papa Bento XVI já na questão dos abusos sexuais, ainda como cardeal, tinha sido como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, alguém que deu muita importância a esse assunto. Como Papa vai dar passos que antes não tinham sido dados e, depois, muito importante no meu ponto de vista, foi a capacidade que Bento XVI teve, de distinguir a figura, a autoridade papal, na qual ele acreditava profundamente, mas daquilo que era a personalidade, a pessoa que ocupa este cargo”, salienta.
Num artigo que assina no jornal Público, Rangel vai mais longe e escreve que o Papa “aboliu a monarquia no Vaticano”.
À Renascença, admite que a frase “talvez seja um bocadinho exagerada”, contudo pretende chamar a atenção para o facto de, “ao renunciar, veio dizer que esta função não é uma função necessariamente vitalícia”.
“Em certas condições”, prossegue, “a renúncia faz sentido. Quando o Papa Bento XVI faz isto, não faz apenas porque estivesse muito cansado, mas por considerar que, nessa altura, já seria necessária outra solução para o Vaticano”.
Por isso, observa, “foi um gesto revolucionário, porque veio chamar a atenção para, uma coisa é a autoridade papal, outra coisa é a pessoa que ocupa esse cargo”.
“Quer a sua atitude, quer a de João Paulo II, que no seu sofrimento se manteve até ao fim, são atitudes muito compreensíveis. Um dá um grande exemplo em como todos aqueles que têm dificuldades, têm um papel a desempenhar e foi o exemplo de João Paulo II, e o exemplo de Bento XVI é contrastante com este”, acentua.
É nesse sentido que “foi revolucionário”, para dar “um sinal que também os Papas podem ser renovados porque a autoridade papal é uma autoridade que resulta de razões que não têm a ver com a pessoa em concreto, mas com as necessidades da Igreja e, para quem acredita, também com a inspiração divina”, conclui Paulo Rangel.