02 jan, 2023 - 14:05 • Aura Miguel , em Roma
I.
Há uma corrente humana contínua, com milhares de pessoas que caminham pela Avenida della Conciliazione, até à Praça de São Pedro, passam pelo controle de segurança da polícia e pelos detetores de metal e entram depois na basílica.
O grupo de vaticanistas onde me integrei não teve de permanecer na fila porque atravessámos uma das fronteiras do Vaticano, onde estão os guardas suíços fardados a controlar a entrada. Fomos acompanhados por um responsável da Sala de Imprensa, munidos das respetivas credenciais, e entrámos diretamente dentro da basílica, onde existe um palanque especial, mais elevado, especialmente a pensar nos fotógrafos e operadores de câmara. Aos repórteres, foi permitido circular livremente, sem autorização de transmissões ou reportagens dentro da Igreja.
Claro que optei, juntamente com alguns colegas, por integrar o fluxo anónimo de pessoas que, ininterruptamente, entra na Basílica para uma última homenagem ao Papa emérito. Em silêncio, rodeada de gente de todas as idades e origens, caminha-se lentamente pela nave central. Ao longe oiço os cânticos da missa que está a ser celebrada na capela do Espírito Santo, atrás do altar da confissão.
A igreja está blindada para visitas e há cortinas cinzentas a tapar as capelas laterais, incluindo a Pietá e o túmulo de São João Paulo
II.
À medida que nos aproximamos dos restos mortais, os nossos passos ficam mais lentos.
À nossa frente, sobre um grande tapete de cor vermelha, está uma estrutura coberta de veludo dourado com o corpo do Papa emérito, paramentado de vermelho, com a mitra na cabeça, sem anel e sem pálio (os distintivos do poder papal, como vimos no corpo de João Paulo II), por se tratar de um Papa emérito. Bento XVI tem as mãos cruzadas, com um terço preto entre os dedos. A sua cabeça está alinhada com o túmulo de Pedro e o altar da confissão. E, apesar de emérito, há dois guardas suíços, perfilados, de um lado e do outro da cabeceira.
Quando chegamos à sua frente, podemos ver-lhe o rosto. Muitos tentam permanecer em oração, mas os homens da segurança não autorizam. Por diversas vezes, vários funcionários do Vaticano, mandam avançar, com o pedido para circular e não parar ali.
Há quem opte por permanecer mais um pouco de tempo, a rezar dentro da basílica, já longe do altar da confissão.
Para mim, foi tudo demasiado rápido. Por isso, instalei-me num ângulo lateral, de modo a observar os rostos de quem acabava de se despedir de Bento XVI; mas também para dar graças pela riqueza dos seus ensinamentos e testemunho de amor a Cristo, tão inteligente e humilde. Vários adultos trazem crianças pela mão e a maioria das pessoas também não se vai logo embora… como se, desse modo, fosse possível prolongarmos um pouco mais o adeus a Bento XVI